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Gol Contra

Ela era casada havia vários anos e, desde o namoro, sempre fora fiel. Mas um dia, meio cansada da monotonia, da indiferença do marido de muitos anos, resolveu ter um caso. O eleito era um amigo da família de muito tempo. O oposto, mas oposto mesmo do marido! O marido era alto e forte; o amante inteligente; o marido rico; o amante sonhador; um palmeirense; o outro corintiano. Era diferença demais. O único consenso entre eles era a mulher: bonita e gostosa. Resolveram se reunir para discutir as diferenças e o consenso em um domingo à tarde. Mas não era um domingo qualquer, era dia de clássico: Corinthians e Palmeiras.

Ao chegar o amante, ela estava apreensiva, afinal tudo seria possível acontecer. Tudo! Até morte. Tudo! Tudo? Tudo mesmo? Até rolar um ménage a trois? Ela começou imaginar a cena e mal se continha, ela… os dois… ao mesmo tempo! Ai! Suspirava! Para quem há alguns dias não tinha homem nenhum, agora dois, a disputá-la, dois ao mesmo tempo… Ufa!

Seus devaneios foram interrompidos quando da sala, onde ambos haviam se sentado para conversar veio um pedido:

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– Bem, traz uma cervejinha – disse o marido.

Conversavam, como todas as pessoas civilizadas, sobre amenidades: o tempo, política, carros, religião, enfim conversas que não levam absolutamente a lugar algum. Tinham estrategicamente evitado o futebol.

Ela, previdente, enquanto isso, resolveu arrumar o quarto. Foi até lá e escolheu o melhor lençol de seda, trocou as tolhas do banheiro, ou melhor, colocou seis toalhas limpas, preparou a banheira e os sais, KY, afinal, mulher previdente é assim, nunca é pega de surpresa. Trocou também de roupa, pôs uma saia curta, bem sensual, e uma camisa por uma regata decotada, sem sutiã, que dava o que imaginar.

Novamente, foi interrompida nos seus afazeres e planos com mais um pedido da sala:

– Querida, estica a mão e pega mais uma cervejinha – pediu gentilmente o marido.

– E uns copos gelaaados! – gritou!

Ao voltar, o amante, que já parecia mais à vontade:

– Ah! Aproveita e corta mais uns queijinhos.

De passagem, ela havia notado que o assunto já era o jogo:

– Nós não temos como perder. Montamos um baita esquadrão – dizia o corintiano.

– Mas não tem entrosamento. A torcida tem pressionado e não tão jogando nada – arguia o palmeirense.

– Senta aqui! – disse o marido, fazendo sinal para ela se sentar no sofá, entre os dois.

– É! Assista ao jogo com a gente! – completou o amante animado.

E ela, vestida como estava, certa de que agora realmente começaria o jogo, acomodou-se, apertada entre os dois.

Perto do intervalo do primeiro tempo, de um jogo ruim, zero a zero, sem chutes a gol um deles, já não importa mais qual, disse:

– Ô Bem, pega mais uma cerveja pra gente.

Ela levantou-se e convidou:

– Eu vou tomar um banho de banheira. Vocês não querem vir comigo? – falou com uma voz sensual.

Ao que um deles respondeu, de bate pronto, ao outro:

– Vai você. Eu vou ver o show do intervalo.

– Não. Vai você. Eu não quero perder o começo do segundo tempo.
Ela se levantou e saiu gritando:

– Vou dar para o primeiro que passar na rua!

Mas não recebeu a devida atenção, pois começava o segundo tempo.

Certamente o primeiro que passa não é nenhum Gianechini. E não era mesmo. Era um pedinte fedido, velho, sujo, que lhe perguntou: “A senhora não tem nada para me dar?

Algo que seu marido não quer mais?”.

“Quem sabe o segundo?”, considerou ela. Foi quando encontrou seu vizinho: um garoto, universitário, bonito, que vez por outra olhava para ela, ainda mais agora, como ela estava vestida. Não pensou duas vezes e entrou na casa dele e, sem mais conversas, cumpriu o prometido com aquele jovem rapaz que não teria outras coisas na cabeça, senão mulheres e sexo. E que disposição!

A primeira palavra que trocaram, depois de algum tempo, foi quando ele se levantou, ligou a TV para ver os gols da rodada e disse:

– Gata, estica a mão e pega uma cervejinha pra gente.

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Antônio Fais

Colaborador

Escritor, Filósofo, Professor, Especialista em Linguagem e Aprendizagem.

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