Por: Priscila Assumpção
De pé, embaixo do grande carvalho, o menino se sentia muito pequeno enquanto olhava para cima e percebia que não tinha como avistar o topo da árvore. A infinidade de galhos capturava sua atenção. Começava a seguir um e de repente os olhos estavam seguindo outro que cruzara com o primeiro. Observava os detalhes de luz que atravessavam os pequenos buracos que surgiam entre as folhas, formando lindos desenhos no tronco e no chão.
Aí lembrou-se da tarefa que a professora lhe dera como lição de casa. Deveria entrevistar seus pais e desenhar sua árvore genealógica em um papel para levar no dia seguinte e apresentar à classe.
Ficou ali, parado embaixo da imensa árvore, coçando a cabeça e tentando imaginar onde ele se encaixaria se aquela árvore fosse a de sua família. Eram tantos galhos e tantas ramificações. Ele era apenas a ponta de um dessas centenas de galhos. No entanto, todos saíam do mesmo tronco. Sem o tronco, nenhum daqueles galhos existiria.
Correu para casa, morrendo de curiosidade. Quem seria o tronco de sua família? Sua mãe só lembrava até a bisavó dela. Seu pai, com menos paciência, lembrou até seus avós. “Mas, e antes?”, perguntava o menino. “Não sei! Coloca o que falamos aí e está bom assim.”
O menino desenhou a árvore com o que os pais falaram, mas ficou pensativo, tentando imaginar que aquelas pessoas que ele só conhecia por fotos, já velhos, deviam ter sido bebês também, como ele e a irmã. E os pais deles também. E os deles. E os deles! Nossa! Essa árvore ia ficar enorme como o carvalho, ou até maior! E nenhum deles era o tronco.
Pensou, pensou e resolveu entregar o trabalho com o que os pais sabiam contar.
O menino cresceu. Nunca conheceu todos os galhos de sua árvore, muito menos o tronco. Não conheceu nem os que vieram antes dele, nem os que vieram depois. Quando morreu, sorriu ao pensar na árvore.
Até hoje, quem quiser pode visitar seu túmulo. Onde? Foi enterrado embaixo do grande carvalho.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.