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Mulher que chegou aos 36 kg e precisou reverter bariátrica celebra recuperação: ‘Um renascimento’

Moradora de Rio Claro (SP), a auxiliar administrativo Ana Paula Santana da Cunha, de 43 anos, teve anemia severa e fez procedimentos em São José do Rio Preto. Ela já está com 60 quilos.

O dia 9 de setembro de 2024 marca um recomeço de vida para a auxiliar administrativa Ana Paula Santana da Cunha, de 43 anos, moradora de Rio Claro (SP). É a data em que médicos reverteram completamente uma cirurgia bariátrica feita por ela dois anos antes, em agosto de 2022.

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O primeiro procedimento, ainda em meio à pandemia de Covid-19, era uma tentativa de restabelecer a saúde. Ana Paula pesava 96 quilos com 1,52 metro de altura, levando a pressão alta, problemas no joelho e um Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40.

Mas, depois da bariátrica, a expectativa de ser mais saudável não se confirmou. Isso porque ela emagreceu muito além do previsto, sentia mal-estar ao se alimentar e chegou a 36 quilos, com quadro de anemia severa. O diagnóstico é considerado raro, segundo o médico cirurgião digestivo e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica Jorge Hage Zbeidi.

Por isso, houve a necessidade de reverter a cirurgia. A primeira tentativa aconteceu em março de 2024, mas o objetivo foi parcialmente alcançado. Há seis meses, um alívio: as esperanças por mais qualidade de vida foram renovadas com duas operações realizadas em São José do Rio Preto. Hoje ela celebra a recuperação já com 60 quilos.

“Foi um renascimento, Deus me deu a chance de outra vida. Depois de tudo isso a gente reflete bastante. Eu tenho que aproveitar cada minuto da minha vida. Eu quero viver um dia após o outro como se fosse o último”, afirmou.
Segundo Zbeidi, cirurgias revisionais da bariátrica são comuns, mas geralmente para fazer ajustes na cirurgia em caso de ganho de peso ou para atualizar procedimentos antigos. Já a reversão da bariátrica, principalmente por causa de uma anemia, é algo muito raro. Em 25 anos, o médico contou que havia atendido apenas um caso deste tipo.

Passo a passo e sonhos

Desde o último procedimento, Ana Paula realmente recomeçou. A parte neurológica e a mobilidade foram bastante afetadas pelo quadro de desnutrição, o que tornou indispensáveis sessões de fonoaudiologia, fisioterapia, pilates e terapia ocupacional.

O processo fica mais leve, segundo ela, graças à parceria do filho Gustavo, de 18 anos, e do marido Alessandro.

Ela segue afastada do trabalho até junho como parte da recuperação. “Não vejo a hora de voltar. Foram dois anos de aflição e agora tudo está se ajeitando aos poucos. O pior já passou”, resumiu.

A jornada profissional, aliás, será importantíssima para o passo a passo rumo ao grande sonho dela: conquistar uma casa própria. Antes de algo maior, que demanda mais tempo e esforço, ela já conseguiu outra sensação inesquecível, um símbolo da alegria na simplicidade.

“Naquela época que não gosto nem de lembrar, sentava pra comer e qualquer coisa que ingeria eu passava mal. Mas hoje eu como de tudo. E, para falar a verdade, a minha vontade era de poder comer arroz, feijão e carne moída, eu amo. Assim que tive oportunidade, comi com gosto.”

Durante a recuperação, Ana Paula tomou suplementos e algumas vitaminas. E vai continuar fazendo acompanhamento médico de tempos em tempos. “Só tenho que manter a dieta para não voltar a engordar tudo que emagreci. É só tomar conta da alimentação e me cuidar.”

Em agosto de 2022, Ana Paula fez uma bariátrica do tipo bypass gástrico, na qual há o grampeamento do estômago e um desvio do intestino.

Mas ela teve complicações após a cirurgia e passou a não reter os alimentos no estômago, vomitando tudo o que comia. Como resultado, chegou a pesar 36 quilos – menos de 20 quilos do peso ideal – e ficou anêmica.

Com a anemia, que é caracterizada pela baixa da hemoglobina (proteína responsável por transportar o oxigênio nas nossas células), ela passou a precisar de cuidados permanentes. Não conseguia se manter de pé sem ajuda, ficou com problemas na fala e não conseguia escrever o próprio nome. Sua alimentação era à base de suplementos alimentares e vitamínicos e sopas.

Auxiliar administrativa Ana Paula Santana da Cunha, de Rio Claro, antes de passar pela reversão da bariátrica com 36 quilos (à esquerda) e hoje com 60 quilos (à direita) — Foto: Acervo EP e Arquivo pessoal

Complicações intestinais

Os problemas começaram três meses após a bariátrica, quando Ana Paula passou da dieta líquida para a ingestão de alimentos sólidos.

“Era como se o meu estômago estivesse cheio, ele fermentava e, enquanto eu não colocava para fora, eu não tinha sossego. Aquilo vinha até em cima e eu colocava para fora, mesmo tomando remédio para enjoo”, contou.

No final de 2022, ela passou por outras três cirurgias para reverter complicações intestinais e uma para desfazer uma obstrução intestinal, mas o problema não foi resolvido.

“Em dez dias eu fiz três cirurgias, mas depois da alta [hospitalar] continuou da mesma maneira, tinha dia que eu conseguia comer algo e tinha dia que eu não conseguia”.

A cirurgia bariátrica viveu uma longa evolução ao longo de mais de 70 anos, passando por várias técnicas. Atualmente, duas técnicas são amplamente utilizadas:

Bypass gástrico –há a diminuição do estômago e o desvio do intestino – Nesse procedimento é feito o grampeamento de parte do estômago, reduzindo o espaço disponível para o alimento, e um atalho entre o intestino e o estômago. Essa intervenção também é considerada metabólica e a indicada para quem faz a cirurgia como forma de controlar a diabetes
Sleeve – há apenas a diminuição do estômago, não é alterado o caminho natural do alimento. Por ser mais simples, apresenta menos complicações e é a técnica mais realizada no mundo, menos no Brasil e na Suécia, onde a Bypass ainda domina com uma pequena margem.
A primeira condição para a indicação da bariátrica é o Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40, o que indica obesidade mórbida (IMC > 40).

Em casos em que o paciente tem obesidade grau 2 (IMC entre 35 e 40) também há indicação se houver comorbidades como hipertensão, diabetes, apneia do sono ou problemas nos joelhos ou gordura no fígado.

Ana Paula da Costa Santana passou da obesidade para anemia extrema após fazer cirurgia barátrica — Foto: Arquivo pessoal
Veja os principais cuidados a seguir para a cirurgia:

O paciente deve ser extensamente investigado com exames e ser avaliado por toda equipe multidisciplinar (nutricionista, psicóloga, endocrinologista, cardiologista e pneumologista).
É comum pedir que o paciente passe por uma redução de peso antes do procedimento para evitar complicações durante e após a cirurgia.
Pacientes fumantes devem parar com o hábito pelos menos seis meses antes de fazerem a bariátrica.
O histórico de saúde conta para a liberação ou restrição da bariátrica, que não é indicada para pacientes com restrições psiquiátricas e usuários em drogas.
Um cuidado necessário para quem vai fazer a bariátrica é buscar indicações sobre o médico na Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, que possui rígidos padrões para seus associados e renova a certificação a cada cinco anos.
Bariátrica não é garantia de ficar magro
Fazer uma cirurgia bariátrica não é garantia de ficar magro para o resto da vida.

“Não é uma cirurgia milagrosa. Ela é uma grande ajuda, com resultados muito bons. Mas depende muito do esforço do paciente. É muito importante frisar que o paciente precisa da equipe multidisciplinar antes e depois da cirurgia”, afirmou o cirurgião digestivo Zbeidi.
De acordo com o médico, com o passar dos anos, mais de 60% dos pacientes abandonam o acompanhamento período que deve ser feito após a cirurgia, o que pode desencadear ganhou de peso ou mesmo a desnutrição.

 

Fonte: g1 São Carlos/Araraquara

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