Por: Dirceu Dalben, deputado estadual
Um dos principais fatores que contribuíram para tornar São Paulo a locomotiva econômica e política do Brasil foi o seu ecossistema de ferrovias, implantado no final do século 19 e que manteve grande relevância até o início da década de 1970. Os trilhos das companhias Paulista, Mogiana, Santos-Jundiaí, São Paulo Railway e Central do Brasil, entre outras, foram fundamentais para o transporte do café e, depois, de outras riquezas paulistas e, igualmente, para o transporte de passageiros, em um significativo processo de intercâmbio e valorização da diversidade cultural em nosso estado.
As ferrovias representaram, portanto, um dos principais motores do desenvolvimento de São Paulo e agora se descortinam no horizonte importantes iniciativas apontando para a retomada da matriz ferroviária como força motriz de mais um ciclo desenvolvimentista em território paulista. Identificar e apoiar as novas possibilidades de desenvolvimento do estado, em benefício sobretudo de seus municípios e moradores, a partir da revitalização do sistema ferroviário, é justamente um dos propósitos da Frente Parlamentar pela Malha Ferroviária, lançada no último dia 26 de outubro na Assembleia Legislativa por iniciativa do meu mandato.
Uma das áreas que a Frente Parlamentar contempla nessa perspectiva é a da necessária atenção que merece o rico patrimônio ferroviário existente no Estado de São Paulo. São as antigas estações ferroviárias, marco arquitetônico e urbanístico para muitas das cidades paulistas. Várias delas nasceram ou cresceram em função de suas estações ferroviárias, como é o caso da cidade de Sumaré, que se tornou um núcleo urbano a partir da Estação Rebouças, ligada à malha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Algumas das importantes estações ferroviárias paulistas já foram tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Outros processos de tombamento de patrimônios ferroviários paulistas, incluindo estações e também antigas oficinas e outros bens arquitetônicos, estão em tramitação no CONDEPHAAT.
Mas somente o tombamento não garante uma adequada proteção e revitalização do patrimônio ferroviário. São necessárias outras medidas e políticas públicas. Particularmente entendo que as antigas estações ferroviárias têm vocação para sediar centros culturais, museus ou outros serviços com esse perfil, o que já acontece em alguns casos. Entretanto, acredito que pode ocorrer uma maior valorização do patrimônio ferroviário paulista, no sentido de sua utilização para fomentar o turismo local e regional, a exemplo do que acontece no trecho da antiga Companhia Mogiana entre Campinas e Jaguariúna. Uma Maria Fumaça devidamente recuperada faz a ligação entre duas cidades, em um passeio que se tornou importante atração turística para os dois municípios, atraindo pessoas de outras regiões.
Outro exemplo é o da série de passeios de um trem natalino que a empresa Rumo promove até 21 de dezembro deste ano. Um trem com motivos natalinos percorrerá trechos da malha ferroviária atualmente sob concessão da Rumo, para transporte de carga, partindo de antigas estações em várias cidades paulistas.
Esse tipo de atividade com certeza contribui para o resgate do que as ferrovias representam no imaginário de muitas pessoas. E são ações que tendem a ser multiplicadas com os projetos de revitalização do sistema ferroviário paulista que estão em curso. A Frente Parlamentar pela Malha Ferroviária está atenta a toda alternativa interessante de proteção e recuperação do patrimônio ferroviário paulista, visando a sua transformação em novos caminhos para o desenvolvimento do estado, por meio do fomento ao turismo e outras ações de empreendedorismo, pela criação de empregos e melhoria das condições de vida de nosso povo.