Por: Priscila Assumpção
Pelada. Completamente pelada.
Cabisbaixa, via tudo que um dia mascarara sua nudez espalhado pelo chão à sua volta. Agora estava ali, exposta, sua verdadeira aparência evidente para quem olhasse.
Ela bem que tentou se agarrar a alguns vestígios da roupagem que a cobrira tão majestosamente apenas um mês antes, mas o vento forte não perdoou. Arrancou tudo. Tudo.
Ela não tinha como saber que o futuro traria de volta seu esplendor. Só tinha o momento. A vergonha. A desesperança. Olhava para o chão à sua volta e pensava que esse era o fim. Estava morrendo. Não havia outra explicação.
Uma brisa gelada parecia picar sua superfície descoberta. Ah, vento maldito. Primeiro a deixa nua e depois a tormenta?
Mas espera. Uma memória se agitou em suas entranhas. Era como se já tivesse passado por isso antes. Prestou atenção ao vento e percebeu que agora ele levantava o que espalhara pelo chão, levava embora, como se quisesse preparar o solo para algo que estava por vir.
Ao seguir o movimento do vento, percebeu que não estava sozinha. Havia muitas outras em situação semelhante. Também percebeu que algumas à sua volta ainda tinham a roupagem completa, como se nada estivesse acontecendo.
Isso fez com que a memória ficasse mais forte. Sim, já havia passado por isso antes.
Muitas vezes, aliás. O vento só fazia o trabalho dele. Não havia malícia nem má intenção.
Fazia parte do ciclo da vida.
Deu risada baixinho, sentindo-se um pouco ridícula. Além de pelada, estava esquecida também.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
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