Pesquisadores apontam quantos anos de evolução são perdidos com a extinção de animais
Todas espécies na Terra interagem umas com as outras para sobreviver, sendo este o resultado de milhões de anos de evolução. Algumas espécies possuem uma relação benéfica para ambas as partes, como as plantas e seus dispersores de sementes. No entanto, se os animais que comem os frutos desaparecerem abruptamente, as plantas que dependem destes para completar seu ciclo de vida irão sofrer as consequências.
Pesquisadores do câmpus de Rio Claro da Unesp, em colaboração com pesquisadores da Espanha e financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), acabam de publicar um estudo quantificando quantos anos de evolução são perdidos com a extinção de animais que estabelecem relações benéficas com as plantas.
Esse estudo pode ser acessado gratuitamente na revista Science Advances (Emer et al. 2019. Defaunation precipitates the extinction of evolutionarily distinct interactions in the Anthropocene. DOI 10.1126/sciadv.aav6699).
“Quando observamos um sabiá comendo uma pitanga e dispersando suas sementes, estamos presenciando milhões de anos da história evolutiva das espécies envolvidas nessa interação”, afirma a pesquisadora Carine Emer, que liderou o trabalho. “Interações ecológicas não podem ser preservadas em museus, zoológicos ou jardins botânicos; elas precisam de áreas naturais com animais e plantas para ocorrer. A extinção de história evolutiva é para sempre, como queimar o acervo do Museu Nacional. Não pode ser recuperado”, diz a pesquisadora.
Os pesquisadores mostraram que algumas interações entre aves e plantas são muito mais antigas que outras e a extinção de um dos parceiros leva a uma enorme perda de história evolutiva.
Histórias evolutivas antigas tendem a ser muito diferentes e desempenham funções únicas na natureza. Na Mata Atlântica, por exemplo, a jacutinga (Pipile jacutinga) possui uma história evolutiva de cerca de 29 milhões de anos (Ma) e é um dos principais dispersores do palmito juçara (Euterpe edulis), que por sua vez tem em torno de 99 milhões de anos. Juntos, a jacutinga e o palmito juçara possuem cerca de 130 milhões de anos de informação evolutiva única. A jacutinga é uma espécie endêmica da Mata Atlântica e está ameaçada de extinção.
“A jacutinga é uma das aves mais caçadas da Mata Atlântica e, se ela for extinta, leva consigo a história evolutiva de todas as interações que estabelece, inclusive com o palmito juçara”, relata Mauro Galetti, professor titular da Unesp em Rio Claro e um dos autores do artigo.
“O ser humano está agindo na Terra como o meteoro que matou os dinossauros”, diz Galetti. “Não estamos apenas empobrecendo a biodiversidade do planeta, mas estamos empobrecendo a história evolutiva da Terra”, afirma o professor.
O estudo faz parte do pós-doutorado da pesquisadora Carine Emer, sob a orientação do professor Mauro Galetti, ambos do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro. Além deles, assinam o trabalho o professor Marco Aurelio Pizo, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro; Pedro Jordano, do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), da Espanha; e Miguel Verdú, também ligado ao espanhol CSIC.
A íntegra do artigo, em inglês, pode ser lida neste link: https://advances.sciencemag.org/content/5/6/eaav6699.