Patrimônio histórico, berço de Itirapina e importante ponto turístico da Serra do Itaqueri, o pequeno povoado enfrenta críticas de moradores e turistas diante de um lixão improvisado instalado em local simbólico.
O pequeno e pitoresco povoado de Itaqueri da Serra, distrito de Itirapina, voltou a ser assunto entre moradores e turistas que escolheram o local para passar as festas de fim de ano. O motivo, no entanto, não está ligado às lendas, à história secular ou às belezas naturais da região — mas sim a uma lixeira instalada em frente a uma figueira centenária, um dos cartões-postais e pontos mais fotografados do vilarejo.
Localizada em plena Serra do Itaqueri, principal atrativo turístico da região, Itaqueri da Serra preserva não apenas suas paisagens, mas também a memória do local onde tudo começou. O povoado, formado por apenas duas ruas pavimentadas, deu origem ao município de Itirapina e carrega em cada canto histórias que atravessam séculos.
Entretanto, segundo relatos de visitantes, a presença da lixeira — que recebe todo tipo de resíduo, sem qualquer separação entre lixo orgânico e material reciclável — tem causado desconforto, indignação e um impacto visual e ambiental incompatível com a proposta do local.
“Olha que coisa horrível! Vê se combina com a paisagem? Não é nada ecologicamente correto. Quando vejo isso fico indignado”, desabafa o turista Luiz, morador da capital paulista, que encaminhou imagens à reportagem.
Segundo ele, o espaço vem sendo utilizado de forma indiscriminada. “Moradores da vila, visitantes e pessoas que alugam casas descem todos ali para jogar lixo. Além disso, está virando um ponto de descarte de entulho, um verdadeiro lixão a céu aberto”, acrescenta.
Além do impacto visual negativo — especialmente em um local considerado “instagramável” — o odor exalado pelos resíduos compromete a experiência de quem visita a vila em busca de tranquilidade, contato com a natureza e conexão com a história.
A sugestão apresentada por turistas e moradores é simples e viável: a realocação da lixeira para outro ponto, além da implantação de contêineres padronizados, com separação correta de resíduos, seguindo princípios ESG (ambientais, sociais e de governança), alinhados com a proposta de preservação que o povoado sempre defendeu.

Um vilarejo onde história, fé e lendas se encontram
Itaqueri da Serra preserva histórias singulares desde o século XVIII. Fundado por colonizadores portugueses vindos da Ilha da Madeira, por volta de 1770, o vilarejo teve como um de seus primeiros marcos a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição, símbolo da fé e da identidade local.
A igreja, que abriga a imagem original da santa trazida de Portugal, tornou-se o centro da vida comunitária, sendo palco de histórias curiosas, como o famoso “roubo” da imagem entre Itaqueri de Cima e Itaqueri de Baixo — episódio que reforça a forte ligação emocional da população com seu patrimônio religioso.
Ao longo dos anos, a capela passou por reformas, incorporando elementos renascentistas, neoclássicos e barrocos, refletindo a longa trajetória do povoado, que também é terra natal de Ulysses Guimarães, uma das mais importantes personalidades da história política brasileira.
Além da igreja, o vilarejo guarda lendas, construções históricas como a Casa Feltrim, fundada em 1894, o curioso coqueiro que cresce sobre um túmulo no cemitério local e, claro, a figueira centenária, símbolo de resistência e memória coletiva.
Pedido de respeito e preservação

Justamente por carregar tamanha importância histórica, cultural e ambiental, moradores e visitantes pedem mais atenção do poder público. O entendimento é de que um local que preserva suas origens, valoriza o meio ambiente e atrai turistas não pode conviver com um ponto de descarte irregular em frente a um de seus símbolos naturais mais importantes.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Itirapina, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
Enquanto isso, Itaqueri da Serra — berço de Itirapina, guardiã de histórias, fé e natureza — segue aguardando que o cuidado com o lixo esteja à altura do respeito que sua história merece.





