Incidente em uma das principais atrações ocorreu em 11 de dezembro e parque temático busca respostas com fabricante dos carrinhos, nos EUA. Presidente diz que visitantes não correram risco, enquanto frequentadores relatam susto, choro, e que funcionários foram avisados do problema.
O Hopi Hari, em Vinhedo (SP), busca respostas sobre a falha em uma trava de segurança da montanha-russa Montezum, que se soltou na mão de um dos 16 visitantes resgatados do brinquedo em 11 de dezembro. Após relatos de susto, choro, espera de quase uma hora para saída dos carrinhos, e que funcionários foram alertados antes da volta, o parque, a pedido do Fantástico, simulou protocolos de segurança daquele dia – veja vídeo – e alegou que frequentadores não correram risco.
“Primeiramente peço desculpa, por uma falha que não conseguimos identificar ainda”, falou o presidente do Hopi Hari, Alexandre Rodrigues.
A Montezum é uma das principais atrações do parque temático inaugurado em 1999 e ninguém ficou ferido após a parada técnica. As imagens que viralizaram nas redes sociais mostram o brinquedo no meio do percurso, a 20 metros do chão, quando um dos visitantes exibe no alto a peça que se soltou, enquanto outros frequentadores fazem um sinal de “X” usando os braços para reivindicar a parada. A trava que se soltou fica no colo dos visitantes, para prender as regiões das pernas do abdômen.
“Nenhum (risco) Nós temos um sistema de redundância, a trava é a peça principal, mas nós temos o cinto de segurança, o assento pelo nível gravitacional ele propicia ficar fixo no assento”, defendeu Rodrigues. Segundo ele, o processo de recuperação judicial do Hopi Hari, em tramitação, não afeta a manutenção dos brinquedos: “Gastamos em torno de R$ 15 milhões na manutenção por ano, mais ou menos R$ 2 milhões em treinamentos, isso para operação e parte técnica”, frisou o presidente.
O Procon de São Paulo notificou o parque sobre o caso e analisa aplicação de multa, enquanto o Ministério Público, em Vinhedo, também solicitou informações referentes ao incidente.
Como é o procedimento e apurações
O diretor de engenharia e manutenção no Hopi Hari, Eduardo Fernandez, indicou uma série de hipóteses sobre o problema na trava de segurança do terceiro vagão do trem da montanha-russa. Segundo ele, a peça já foi substituída e a suspeita é de que a solda da anterior tenha se rompido. No dia em que o caso ocorreu, o brinquedo foi fechado. No dia seguinte, após troca, voltou a funcionar.
“Houve uma quebra mesmo, uma soltura […] Pode ter sido desgaste, a peça tem muitos ciclos, ela estava dentro da validade dela, é uma peça original, a gente já conversou com o fabricante dela, estamos tentando com ele entender a ocorrência, para que a gente possa melhorar o processo de inspeção e fabricação”, contou.
O parque apresentou ao Fantástico documentos dos planos de inspeção para mostrar que as vistorias estão em dia. Há inspeções diárias, semanais e mensais feitas por profissionais do Hopi Hari, e incluem trabalhos que começam na oficina dos trens, cinco horas antes da abertura dos portões.
“Na Montezum, por exemplo, nós estamos falando de 95 itens de verificação de área, eles verificam roda, chassi, sistema de drenagem, verificam os engates entre vagões, se tem rolamentos soltos, é uma verificação completa todos os dias”, falou Fernandez.
As inspeções semestrais também são feitas por engenheiros do parque. A mais recente ocorreu em outubro e os dados podem ser acessados por meio de QR Code, em frente às atrações. A empresa internacional TÜV Netherlands, fez naquele mês a última certificação anual da montanha-russa.
Já as vistorias anuais têm teste de gravidade. Os trens são desmontados, montados novamente, e há voltas com sacos de areia com peso estimado em 70 kg, de acordo com o Hopi Hari.
O parque em Vinhedo apura junto com o fabricante dos carrinhos, a empresa Philadelphia Toboggan Coasters (PTC), dos Estados Unidos, o motivo da trava ter se soltado na mão do visitante.
“A PTC que é o caso, nós entramos em contato com eles, e estamos pedindo um posicionamento, então não é uma cobrança. A gente trata eles como parceiros, como empresas que nos fornecem componentes e que têm todo know-how e experiência com o equipamento. Então a gente vai dividir com eles e entender o que pode ter acontecido e como a gente pode fazer para prevenir isso”, destacou Fernandez.
Procurada pela reportagem, a assessoria da PTC informou que não irá se manifestar sobre o caso.
Rotina de segurança e relatos dos visitantes
A verificação do cinto e das travas na montanha-russa é feita por quatro funcionários, segundo o parque. Além disso, de acordo com normas de segurança, quando o frequentador quer desistir ou percebe algum tipo de problema, deve fazer um “X”, que é um sinal universal, para que os funcionários imediatamente acionem a cabine de comando. Com isso, o operador aperta o botão de “parada de emergência” e todos os procedimentos são monitorados por câmeras de segurança.
No caso da parada da Montezum, os visitantes foram desembarcados por uma escada na área lateral.
O frequentador Caio Coelho Matos contou que estava na plataforma quando os ocupantes do trem alertaram a equipe do parque sobre o problema antes do início da volta.
“Ele [outro frequentador na montanha-russa] reclamou da trava estar solta e tudo mais. O pessoal lá, os operadores, eles estavam dizendo que não tinha como o carrinho andar sem que a trava esteja devidamente fechada né. Aí o carrinho foi, o rapaz começou a gritar, as pessoas começaram a gritar, e o carrinho continuou… Ele ergue o pedaço da trava, aí eu falei assim: ‘Ele está erguendo a trava’. Aí o rapaz da cabine foi lá ver e pediu para parar né. O fato de a gente ter uma disputa com ele [funcionário] foi a parte mais estressante né. Pelo menos a forma como o visitante do parque vê, é até descaso.”
Uma jovem de 20 anos chorou após ficar no grupo de pessoas à espera de resgate no carrinho da montanha-russa. “Foi um grande susto. Eu abracei meus amigos, chorei”, contou.
Proposta
Um grupo de investidores ligados ao Beto Carrero World, Playcenter, Wet’n Wild e outras empresas fez uma proposta para compra do parque, em novembro. Por conta disso, a Justiça decidiu suspender a continuidade da assembleia de credores que votaria novo aditivo ao plano de recuperação judicial, naquele mês, e uma nova data ainda não foi marcada. O Hopi Hari, entretanto, contesta esta iniciativa.
A dívida do Hopi Hari é estimada na faixa de R$ 500 milhões e a maior parcela é devida ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), o qual representa pelo menos R$ 230 milhões deste montante financeiro apresentado. Um plano de recuperação chegou a ser aprovado em abril de 2019, mas depois foi contestado pela Justiça porque os maiores credores foram deixados de fora do acordo.
Morte de adolescente em 2012
Há nove anos, uma adolescente morreu após cair do brinquedo “La Tour Eiffel”, em virtude de um problema na trava da torre de queda livre. A menina despencou e não resistiu aos ferimentos. Desde então, o brinquedo ficou inutilizado, mas continua mantido na entrada do parque.
O Hopi Hari admite planos para reformar esta atração e reabrir ao público. Inicialmente, a previsão de reabertura da torre, agora chamada de “Le Voyage”, era para dezembro deste ano, mas o cronograma foi adiado para o segundo semestre de 2022 por conta de reflexos da pandemia da Covid-19.