Levantamento mostra a medição de partículas finas em 7,8 mil localidades em 134 países. Prefeitura de Rio Claro disse que está analisando o relatório.
Rio Claro (SP) está entre as cidades do Brasil com a pior qualidade do ar, segundo relatório World Air Quality de 2023, feito pela IQAir, empresa suíça de tecnologia de qualidade do ar.
O levantamento mostra as cidades e países com pior qualidade de ar do mundo e traz dados de 7,8 mil localidades em 134 países.
O Brasil é o 83º colocado com uma lista de 38 municípios, dos quais Rio Claro ocupa a sétima colocação geral e a quarta entre os municípios paulistas (veja a lista abaixo).
Segundo a medição, o município apresentou índice de 15,5 de material particulado fino (com 2,5 microns ou menos) no ar, o que excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Rio Claro está à frente de cidades como São Paulo, que apresentou índice de 14,3, e Campinas, com índice de 15 e Cubatão com resultado de 15,4 (veja lista abaixo).
Questionada a Prefeitura de Rio Claro disse que são bem-vindas todas as iniciativas que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida nos municípios e lembra que tem desenvolvido vários programas e serviços que contribuem para a qualidade do ar.
“O município de Rio Claro recebeu neste mês de março o reconhecimento como ‘Cidade Árvore do Mundo’, título conferido pelo programa ‘Tree Cities Of The World’, da Fundação Arbor Foundation em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO-ONU). O município mantém programa de doação e plantio de árvores no perímetro urbano e em áreas rurais. A preocupação e cuidados com o meio ambiente também incluem os serviços de coleta de lixo e coletiva seletiva em todos os bairros e tratamento de esgoto que abrange todos os bairros e distritos de Rio Claro”, afirmou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
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Situação histórica
O índice apurado pelo World Air Quality em 2023 apresenta uma melhora em relação ao índice de 2020, quando começou a medição do município, que foi de 17,8, mas representou uma piora em relação a 2022, que foi de 14,9.
A baixa qualidade do ar da região não é nenhuma novidade. Há, pelo menos, 10 anos Rio Claro e a cidade vizinha Santa Gertrudes figuram nas listas de locais do estado de São Paulo com o ar mais poluído.
Em 2022, empresas do polo cerâmico de Santa Gertrudes (SP) assinaram um plano de contingência, em conjunto com o governo do Estado e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), com objetivo de melhorar a qualidade do ar da região.
Os dados do relatório internacional são confirmados pelos dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que coloca a cidade como a única do interior de São Paulo a ter a qualidade do ar considerada muito ruim em relação ao material particulado 2,5 em 2022, ano do último relatório.
De acordo com a professora do departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Roberta Cerasi Urban, os padrões da Cetesb são bons em relação a outros semelhantes do restante do Brasil, mas ainda assim, distante dos valores recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ela esclarece que esclarece que as partículas mais finas encontradas no ar, são provenientes, principalmente, de queima de combustível fóssil ou queima de biomassa.
Uma pesquisa coordenada por ela mostrou que 27% do material particulado no ar vem da queima de biomassa. Outras fontes de poluição são a poeira, responsável por 28%, e gases, como a fumaça dos carros, por 18%.
Como funciona a medição
Estudo internacional mostra as cidades brasileiras com o ar mais poluído
O Relatório Mundial sobre a Qualidade do Ar de 2023 baseia-se em estações de monitorização da qualidade do ar ao nível do solo que capturam e marcam regularmente as leituras de concentração de materiais particulados com diâmetro de até 2,5 micrômetros (MP 2,5) da atmosfera.
Entre essas estações, 39% são operadas pelo governo e 61% são administrados por organizações sem fins lucrativos e outros órgãos particulares.
Ao longo de um ano, uma série resultante de médias horárias é coletada para calcular as concentrações médias anuais de MP 2,5 nas cidades. Posteriormente, esses dados são ponderados pela demografia da população para estabelecer médias anuais para países, territórios e regiões.
O objetivo do IQAir é fornecer uma visão abrangente da qualidade do ar global, facilitando comparações significativas de condições de qualidade do ar ambiente em diversos locais com foco particular na exposição a poluentes transportados pelo ar e suas implicações para a saúde humana.
O risco do material particulado para a saúde
Quanto mais fina a partícula de poluição, mais fácil ela é inalada e mais difícil é a sua eliminação pelo organismo, o que pode causar sérios problemas de saúde.
A pesquisa coordenada pela professora Roberta mostra que a poluição é responsável pela morte precoce de 35 pessoas a cada 100 mil habitantes, o que em Rio Claro representa que 70 óbitos por ano poderiam ser evitados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da população mundial estão expostos a concentrações de poluentes acima dos limites recomendados. As principais consequências da alta concentração de poluentes no ar para a saúde são o ressecamento das mucosas e da pele, irritações nos olhos e no nariz, complicações respiratórias e, em longo prazo, morte por doenças crônicas.
“É sabido que não só problemas respiratórios, mas cardiovasculares estão extremamente associados [à poluição] e outras doenças que ultimamente têm sido correlacionadas às partículas atmosféricas mais fininhas. Essas partículas ao chegar nos pulmões podem causar danos irreparáveis”, explicou a pesquisadora.
Qualidade do ar nas cidades brasileiras
Situação das cidades brasileiras avaliadas pelo World Air Quality de 2023:
Xapuri (AC): 21 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Osasco (SP): 19,4 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Manaus (AM): 16,8 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Camaçari (BA): 16,2 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Guarulhos (SP): 16 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
São Caetano (SP): 15,9 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Rio Claro (SP): 15,5 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Cubatão (SP): 15,4 (excede de 3 a 5 vezes o parâmetro da OMS);
Acrelândia (AC): 15 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Campinas (SP): 15 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Mauá (SP): 14,6 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Porto Velho (RO): 14,3 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
São Paulo: 14,3 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Senador Guiomard (AC): 13,4 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Santos (SP): 13,1 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Ribeirão Preto (SP): 13 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Jundiaí (SP): 12,6 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Rio Branco do Sul (PR): 11,9 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Curitiba (PR): 11,9 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Rio Branco (AC): 11,8 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Piracicaba (SP): 11,8 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Rio de Janeiro: 11,7 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Manoel Urbano (AC): 11,5 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
São José dos Campos (SP): 11 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Taubaté (SP): 10,6 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Guaratinguetá (SP): 10,2 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Timóteo (MG): 10,1 (excede de 2 a 3 vezes o parâmetro da OMS);
Serra (ES): 9,3 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
São José do Rio Preto (SP): 9,3 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Palmas (Tocantins): 9,3 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Macapá (AP): 8,5 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Cruzeiro do Sul (AC): 8,4 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Tarauacá (AC): 8,2 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Jambeiro (SP): 8 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Boa Vista (RR): 7,2 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Guarapari (ES): 7 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Brasília: 6,8 (excede de 1 a 2 vezes o parâmetro da OMS);
Fortaleza (CE): 3,4 (dentro do parâmetro).
Fonte: g1 São Carlos/Araraqura