Por: Luciano Silveira
O ser humano busca a sua independência em vários setores da vida, com os países acontece o mesmo. Neste ano de 2022, o Brasil comemora o bicentenário de nossa independência, proclamada pelo príncipe D. Pedro, herdeiro do trono português, um paradoxo, como foi o início da Nova República, que encerrou a ditadura militar, porém presidida pelo ex-presidente do partido de sustentação do antigo regime.
Em 1822, a nossa Independência, com exceção da província da Bahia, foi realizada sem a participação popular e com ela se implantou no País um regime monárquico sustentado economicamente na mão de obra escrava, com exclusão social e política, pois a maioria do povo não participava da vida política da nação, pois não havia eleições livres. Em 1922, nas comemorações do centenário, o Brasil já era uma República, com o governo de presidente Epitácio Pessoa, porém a exclusão social, política permaneciam. Em 1972, na comemoração do sesquicentenário (cento e cinquenta anos) de nossa liberdade, vivíamos o auge da ditadura militar, com o presidente general Emilio Garrastazu Médici, um regime com liberdade restrita e com exclusão social e econômica disfarçadas pelo Milagre Brasileiro, cuja conta viria depois. Agora, em 2022, no Bicentenário, vivemos num regime democrático, porém o mesmo vem sendo atacado, desafiado, posto à prova, testado por pessoas que usam a democracia para se eleger e depois procuram criar mecanismos que a destruam, pois a desprezam.
Em relação à independência econômica, o Brasil ainda mantém a visão colonial, produzir para exportar, priorizando o mercado externo, pois os dólares pagam a nossa impagável dívida, enquanto isso, o nosso mercado interno é desprezado, ignorado, ficando com as sobras. No setor cultural, somos colônias, pois aceitamos, ou melhor “consumimos sem pestanejar” todos os modismos estrangeiros, em detrimento de nossa própria língua e identidade. No campo social, os nossos índices educacionais, de saúde, de saneamento são aquém do tamanho do potencial do nosso País; além do aumento dos casos de racismo, feminicídio, de ataques à população LGTBQIA+, da exclusão de pessoas com deficiência e do aumento dos grupos que pregam o ódio e o desrespeito às minorias.
No campo ambiental, a situação choca as demais nações, com reflexos na imagem e no comércio de produtos nacionais.
O Brasil para que faça uma verdadeira Independência nos diversos campos: político, social e econômico precisa se livrar do complexo de vira-lata, expressão criada pelo escritor Nelson Rodrigues, em 1950 e que infelizmente, se mantém até hoje, priorizar e cuidar do nosso povo, sem esperar que “salvadores da pátria” façam esse papel que é de cada um de nós. Com planejamento, investimento em educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia, respeito aos direitos humanos, democracia e liberdade o povo, assumindo seu papel de protagonista, proclamará a verdadeira e real Independência do Brasil.
Colaborador: Luciano Silveira é professor e vice-diretor de escola