Artigo inspirado em um vídeo que circulou pela internet. Em Rio Claro tivemos um caso semelhante que chamou atenção de Grupo protetores dos animais.
Priscila Assumpção
O cachorro se aproxima daquela maneira confiante e alegre que só cachorros conseguem ter. Os olhos cheios de amor e felicidade porque, do nada, estava ganhando um prato cheio de comida. Ao se abaixar para degustar as delícias à sua frente, sente uma dor alucinante. A mesma mão que lhe servira o prato tentador escondia uma faca. Assim que o cachorro se distraiu, veio a facada. Seus berros de dor enchem a sala, enquanto o homem ri e xinga o cachorro.
Do outro lado da sala, Mateus, seu amigo de longa data, filma tudo enquanto observa a cena sem sentir o menor remorso por não ajudar o cão ferido, que continua berrando e se arrastando desesperadamente pela sala.
Os dois homens, satisfeitos e saciados de vingança, largam o cachorro à própria sorte, pegam suas coisas e vão embora.
Voltemos dez anos no tempo. Ali, no local do crime, existe um bar. O horário das cinco da tarde vê a chegada do primeiro cliente. Vamos chamá-lo de Zé, pois, depois de alguns tragos, nomes perdem toda importância. E assim vão chegando outros Zés, Joãos e afins. A pinga rola solta, assim como as línguas que começam a proferir ideias sem sentido, frases estapafúrdias, bravatas vazias. Risadas, broncas, choro, vê-se de tudo. O que ninguém ali vê é o Zézinho, filho do Zé, encolhido no canto, morrendo de medo de apanhar.
O que estaria fazendo ali um menino tão frágil? Pouco antes do Zé chegar no bar, ele tinha prometido para a mãe do Zézinho que o buscaria na escola. Também tinha prometido ao Zézinho que hoje seria o dia de ganhar um cachorrinho, assim que ele se “refrescasse”.
Não era a primeira vez que Zézinho via o pai beber. Ele sabia como o pai ficava depois dos “refrescos”. A mão instintivamente protegia a barriga no local onde a faca entrara na última excursão ao bar. Não tinha coragem de contar à mãe, que já sofria tanto. Ainda bem que tinha um amigo, o Mateus, que nunca o abandonava. É para a casa do Mateus que planejava ir assim que conseguisse escapar do pai. E ficou no canto a sonhar. “Um dia”, pensou, “um dia vai ser minha vez.”
Inspirado em vídeo que circulou na internet.
Colaboradora: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.