Com forte captação de recursos para os próximos anos, IB abriga primeiro Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão com sede na Unesp, fortalece parcerias com setor privado e mantém tradição de interação com a cidade.
Em meio a uma vasta área verde que envolve os seus mais de 716 mil metros quadrados, o Instituto de Biociências (IB) da Unesp em Rio Claro se destaca como um polo de desenvolvimento de projetos científicos de grande impacto, com um considerável histórico de colaboração acadêmica com o setor produtivo e interação com a comunidade local.
É esta unidade universitária que abriga desde 2023 o Centro de Pesquisa em Dinâmica da Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), primeiro Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) com sede na Unesp. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o programa Cepid é caracterizado pela formação de centros para pesquisas de caráter internacional que estejam na fronteira do conhecimento.
Sob a liderança da pesquisadora Patrícia Morellato, o CBioClima contabiliza quase cem participantes, na maioria mulheres, desde bolsistas de graduação até pesquisadores de pós-doutorado e associados, de várias partes do Brasil, e conta com um aporte de R$ 40 milhões da Fapesp para os próximos dez anos. “Esse financiamento (do Cepid) se soma a diversos projetos temáticos já existentes no câmpus que, juntos, representam pelo menos R$ 70 milhões captados para pesquisa nos próximos cinco anos”, destaca o diretor do Instituto de Biociências de Rio Claro, professor Adalgiso Coscrato Cardozo. “O Cepid permite a produção de ciência de ponta, contribuindo para formar pesquisadores altamente qualificados.”
Além do suporte de agências de fomento, a unidade também atrai investimentos do setor produtivo, com empresas de grande porte, como as multinacionais Bayer e Syngenta, financiando pesquisas de fôlego para o setor em que atuam. Um exemplo é o trabalho desenvolvido pelo professor Osmar Malaspina, do Laboratório de Ecotoxicologia e Conservação de Abelhas. “No passado, havia resistência a parcerias com o setor privado, mas essa mentalidade mudou. Hoje, entendemos que essas colaborações são não apenas viáveis como essenciais, desde que conduzidas com transparência e responsabilidade. Meu laboratório, por exemplo, só pôde funcionar graças ao financiamento de empresas”, explica Malaspina, professor sênior do Departamento de Biologia Geral e Aplicada do IB.
Outra parceria de sucesso foi o investimento privado de R$ 300 mil na construção de um meliponário, local em que são criadas abelhas sem ferrão, e de uma oficina em uma escola rural do município, ações voltadas à educação ambiental e à preservação das abelhas. “Eu sempre dizia a eles ‘vocês estão impactando populações de abelhas, então precisam investir em projetos para protegê-las’. E eles atenderam ao chamado”, relata Malaspina, que citou também parcerias em pesquisas sobre genética de insetos e polinização de laranja.
Educar, pesquisar, transformar
Criado em 1957 e incorporado à Unesp em 1976, o Instituto de Biociências (IB) já formou, ao longo de sua trajetória, 6.933 alunos nos cursos de Ciências Biológicas, Ecologia, Educação Física e Pedagogia. Embora os cursos da área biológica predominem, o curso de Pedagogia foi implementado com sucesso em 1989, em um contexto de expansão dos programas de licenciatura no país, pois aproveitou a expertise do corpo docente do Instituto, que já contava com professores formados na área de educação.
Segundo a vice-diretora do IB, professora Patrícia Pasquali Parise Maltempi, o alto padrão de formação estabelecido no ensino e na pesquisa em biologia, fortemente influenciado por Warwick Estevam Kerr, que se tornaria o primeiro diretor científico da Fapesp, também se refletiu na criação e na consolidação do curso de pedagogia, com forte ênfase na qualidade da formação docente e na responsabilidade social.
“A maioria dos professores da cidade se forma aqui, e muitas escolas da região procuram o Departamento de Educação em busca de indicação de alunos, o que demonstra a ótima reputação do curso”, destaca Patrícia Maltempi.
Oferecido no período noturno, o curso de pedagogia tem como principais focos a alfabetização e a educação ambiental, pilares marcantes também nos Programas de Pós-Graduação. Ao todo, o Instituto conta com sete programas de pós, que já formaram ao longo da história 2.553 mestres e 1.413 doutores norteados preferencialmente pela produção de pesquisas com impactos concretos para a sociedade.
Um exemplo são os estudos conduzidos no laboratório do professor Malaspina, que contribuíram para a formulação de legislações ou normativas ambientais, como o Manual de Avaliação de Risco Ambiental de Agrotóxicos para Abelhas. No mesmo sentido, as pesquisas coordenadas pela professora Alessandra Fidelis têm orientado estratégias de manejo ambiental e recuperação de áreas degradadas com foco na restauração de ecossistemas após incêndios. “Nosso objetivo é gerar conhecimento que contribua para a preservação da biodiversidade e para práticas agrícolas mais sustentáveis”, diz Malaspina.
O Instituto também se destaca pela inovação, que se reflete tanto em registro de patentes quanto em docentes que são referências em suas áreas, como os professores Célio Haddad, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, e Mauro Galetti, listado como um dos ecólogos mais influentes do mundo e vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico em 2024 com o livro “Um Naturalista no Antropoceno”.
Valorização da extensão
Embora a unidade tenha tradição consolidada de interação com a cidade de Rio Claro, o engajamento com essas iniciativas nem sempre foi amplamente reconhecido. Com a curricularização da extensão, promovida pela Unesp em 2023, os estudantes passaram a integrar essas atividades em sua formação acadêmica, compreendendo cada vez mais o papel essencial da universidade na devolução do conhecimento à sociedade.
Atualmente, o IB de Rio Claro desenvolve 29 projetos de extensão, voltados a públicos dos mais variados. O Programa de Atividade Física para Pacientes com doença de Parkinson, conhecido como Proparki, é uma das iniciativas mais antigas: tem quase 30 anos de existência oferecendo atividades físicas para pessoas com Parkinson. Os alunos atuam como monitores, auxiliando cerca de 60 participantes semanalmente.
Muitos dos projetos têm alcance múltiplos, dialogando principalmente com as áreas de saúde, educação, meio ambiente e inclusão social. São os casos das “Tecnologias no Apoio à Dislexia”, uma iniciativa do professor José Angelo Barela destinada a crianças com dislexia; da “Universidade Aberta à Terceira Idade” (Unati), voltada ao público idoso; da parceria com o Museu Histórico e Pedagógico Amador Bueno da Veiga; do “Caprem Atletismo”, que conta com o apoio da iniciativa privada para atendimento a crianças carentes da comunidade local; da “Chácara Alternativa”, voltado a atividades de educação ambiental; e das “Análises de Mel para Apicultores”, que presta um serviço à comunidade apícola regional.
A expectativa é de que o número de projetos de extensão continue crescendo nos próximos anos, impulsionado pela chegada de novos docentes e pela valorização dessa dimensão acadêmica dentro da Unesp. “Agora, todo professor recém-contratado precisa apresentar um projeto de extensão como parte do processo seletivo”, destaca a vice-diretora do IB.
Expansão e reconstrução
A expectativa da direção do IB é concluir obras como a cobertura da quadra poliesportiva e a substituição do piso do complexo aquático. Dois novos prédios também estão em fase de planejamento: um para o Departamento de Biologia e outro para o Departamento de Biodiversidade, cuja proposta é abrigar um museu –uma prioridade é a reconstrução do prédio atingido por um incêndio que marcou a história recente do Instituto.
“Esse incêndio afetou profundamente o nosso departamento (Departamento de Biologia). Desde então, estamos trabalhando em locais improvisados. O projeto de reconstrução deveria ter sido entregue em fevereiro de 2023, mas enfrentamos diversos atrasos com a empresa contratada. Já aplicamos multas e buscamos alternativas, até que a Reitoria decidiu assumir a responsabilidade e agora vai finalizar o projeto”, diz Patrícia Maltempi.
Outra novidade é a destinação de R$ 6 milhões para o Restaurante Universitário (RU). “Estamos discutindo junto à Coordenadoria de Engenharia e Sustentabilidade, à Reitoria e à própria comunidade qual será a melhor alternativa: construir um novo prédio ou reformar o atual. Vamos buscar a solução que una custo, benefício, agilidade e impacto positivo no dia a dia dos nossos estudantes”, afirma o diretor do Instituto.