Símbolo nacional da fé católica, a imagem original de Nossa Senhora Aparecida será usada para uma oração em meio a pandemia do novo coronavírus para todos os devotos da santa nesta segunda-feira (30).
A celebração religiosa será transmitida no programa “Mensagem de Fé”, que vai ao ar às 11h30, na TV Aparecida nesta segunda.
Este será mais um dos raros momentos em que a imagem original da santa deixará o nicho de ouro do Santuário Nacional de Aparecida (180 km de SP) desde 1978, quando sofreu um atentado e foi quebrada em mais de 200 pedaços.
Quem conduzirá a cerimônia no programa será o padre Mauro Vilela, missionário redentorista. “O momento terá uma oração pedindo a proteção de Nossa Senhora Aparecida para o povo brasileiro”, diz em nota o Santuário Nacional de Aparecida.
O atentado
Nem todo mundo sabe, mas a imagem de Nossa Senhora Aparecida, a que foi encontrada por pescadores no rio Paraíba e é considerada símbolo da Fé católica no país, já sofreu um atentado que a quebrou em mais de 200 pedaços. “Salva” após restaurações, atualmente ela é protegida por um nicho e atrai mais de 10 milhões de devotos por ano ao Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo.
O atentado à imagem da Padroeira do Brasil aconteceu em 16 de maio de 1978 na Basílica Velha em Aparecida. Enquanto a missa das 20h era celebrada.
Durante a missa, um jovem visivelmente transtornado, avançou em direção à Santa no altar. Saltou a uma altura de dois metros até o cofre de ouro com frente de vidro onde estava a imagem. Na terceira tentativa, a força do “possesso” deixou os vidros em estilhaços e Nossa Senhora foi tirada do altar.
O homem correu até a rua e apesar de ser alcançado por um guarda, conseguiu lançar Nossa Senhora ao chão. A imagem quebrou em centenas de pedaços. O suspeito foi detido e tratado como doente mental.
Restauração e homenagens
Depois da imagem ser quebrada, a Igreja cogitou que o restauro fosse no Vaticano, mas o trabalho acabou sendo feito pela artista plástica brasileira Maria Helena Chartuni, hoje com 71 anos, e que na época trabalhava no Museu de Arte de São Paulo (Masp). “Ela estava toda quebrada em uma caixinha. O que eu senti na hora não foi nada agradável, foi uma espécie de pânico. Pensei: o que eu vou fazer agora? Aí, falei à ela: a senhora me colocou em um problema e precisa me ajudar a sair dele”, conta a restauradora.
O processo de revitalização foi minucioso e para ter maior agilidade, Maria Helena utilizou uma cola especial, com fixação mais rápida. Foram 33 dias interruptos de trabalho reorganizando a escultura da santa. As partes que faltaram, como detalhes da cabeça, por exemplo, foram reconstituídas e igualadas às demais.
Após os trabalhos, Nossa Senhora voltou à Aparecida em um cortejo do Corpo de Bombeiros em 19 agosto de 1978. Na ocasião, milhares de fieis acompanharam o trajeto pela via Dutra. “Foi um verdadeiro corredor humano até Aparecida. Não foi marketing, foi uma explosão de fé verdadeira. Com toda emoção que houve, começou a cair minha ficha e tive o sentimento de dever cumprido. Certamente restaurou minha fé, e abençoou muito meu trabalho. Foi a restauração mais importante que fiz na vida”, afirma a artista.
Na volta da Padroeira ao Santuário Nacional, cerca de 100 mil pessoas foram à Aparecida para homenagear a Santa em uma cerimônia que também contou com apresentação de Renato Teixeira, compositor da canção “Romaria”. “Me emocionei ao cantar ‘Romaria’ para aquela multidão. A imagem é como se fosse um totem nacional. É agregadora e tem uma espiritualidade brasileira ímpar”, recorda o cantor.
Pouco depois da volta, a imagem passou por um novo processo de restauração. Descontente com a cor da escura da Santa, o reitor do Santuário, padre Izildo Santos, a escondeu em um quarto por vários dias seguidos para retocá-la. Alterou os traços do olho direito da Padroeira e deu a ela o tom de canela. Abandonou Aparecida antes que percebessem a mudança e, novamente, pouco depois, Maria Helena foi chamada para ‘salvar’ a imagem de Nossa Senhora novamente.
Fonte: G1