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Passeio no Parque

Ela me convenceu de ir ao parque. Queria muito sair com ela, mas não ir ao parque. Não poderia admitir, mas tinha medo, muito medo. Afinal que tipo de ho-mem é esse que teme altura, escuro e velocidade? Era eu, mas poderia confessar-lhe.

Havia também outro problema: o dinheiro que, ao contrário dos medos, em excesso, era escasso. Su-punha ser minha obrigação de cavalheiro pagar-lhe a condução, o ingresso, a pipoca ou o sorvete, pois contado, não daria para todas as opções. Aliás, mal iria além da condução e do ingresso. Poderia desis-tir, mas quantas oportunidades já haviam se perdi-do…

Era uma bela tarde de sábado. Fomos a pé, pape-ando. Não me lembro de uma palavra sequer de nossa conversa, mas seu sorriso e atenção torna-ram agradável o caminho e distraiam quaisquer in-seguranças.

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A sorte parecia me sorrir, pois soube que a monta-nha russa estava em manutenção e, provavelmente, só voltaria a funcionar na semana seguinte – que alívio!

Começamos pelo carrinho de trombar. Acho que era a maior fila do parque. De cara, até achei isso legal, pois ganharia algum tempo para dominar meus re-ceios.

O próximo foi o trem fantasma: a fila andava rápido, o túnel ficou escuro, o carrinho corria muito e eu suava frio. Ela gritava fingindo-se assustada e abra-çou-se a mim. O seu braço quente fazia-me esque-cer de tudo, dos monstros e da velocidade. Saí la-mentando ter durado tão pouco.

Alegando enjôo, “algo que comi no almoço…”, esca-pei de tudo que nos pusesse de ponta cabeça. Pas-samos pela montanha russa que continuava em manutenção. Ufa!

O bicho-da-seda, apesar da velocidade e solavan-cos, comprimia nossos corpos. Ela, em frente a uma barraca, olhava para os bichos de pelúcia e, com um ar malicioso, pediu para ir à roda gigante. Respi-rei fundo e, com os últimos trocados, comprei um grande saco de pipoca que repartimos sentados em um banco.

Não tinha como adiar. Tentava me controlar e ver se não demonstrava o pavor que sentia de altura. Até aqui correra tudo bem e acho que ela nada tinha percebido. Criei coragem e correndo, decidido, pu-xando-a pela mão, gritei bem alto:

 Roda gigante, aqui vamos nós!

E fomos! Fiquei surpreso por não ter mais medo. Eu ria e me divertia. A roda girava. Ela ria muito tam-bém. Do alto víamos a cidade. As pessoas lá em-baixo eram pequenas. Mas, de repente, a roda pára com a gente lá em cima, tudo balança e meu cora-ção dispara. Ela, brincando, se diz assustada e ri. Eu a abraço e sussurro em seu ouvido: “Não tenha me-do. Eu a protejo de todos os perigos.”. Ela aceita minha proteção.

O prazer superava os medos. Nos corpos encosta-dos, sentia-se apenas um coração latejar. Não que-ria mais que a roda se movimentasse, ficaria naque-la altura pelo resto dos meus dias. Os corações dizi-am tudo que houvesse por ser dito. As pessoas e a cidade haviam sumido. O tempo, parado, apazigua os medos e as paixões. Mas a roda andou…

Não me lembro de mais nada do parque nesse dia, apenas do caminho de volta em que sorríamos um para o outro e do beijo de despedida, no rosto, que chegou a roçar no canto de nossas bocas.
Ela sugeriu que tomássemos um sorvete no domin-go, mas eu, sem dinheiro algum, meio encabulado, arrumei uma desculpa qualquer.

Passei a semana pensando na roda gigante e no abraço, nos corações latejantes e no beijinho de canto de boca.

No sábado seguinte eu estava pronto para repetir tudo: trem fantasma, bicho-da-seda, talvez até a montanha russa e… a roda gigante. Havia arrumado dinheiro suficiente para o parque, a pipoca, o sorvete do sábado e do domingo e, com um pouquinho de sorte, ganharia um ursinho de pelúcia no tiro ao alvo para lhe dar. Mas ela não podia ir: estavam com visitas em casa e a mãe precisava de sua ajuda.

Segui só ao parque, disposto a vencer para sempre meus medos. Fazia o caminho sem graça bem de-vagar. Este sábado nem era tão belo. Entrei e vi que o brinquedo estava consertado. Respirei fundo e fui. Mas, na montanha russa, estava ela… com outro. Ele era mais velho e a conduzia com coragem. Os dois riam muito e, de longe, eu distinguia seus gritos alegres na multidão. Ele parecia não ter medo de nada. Eu apenas olhava. Vi quando tomaram sorve-te e foram ao tiro ao alvo. Na fila da roda gigante, ela tinha um urso de pelúcia nos braços. Fui embora, pois não suportaria vê-los abraçados no topo da roda gigante.

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Antônio Fais

Colaborador

Escritor, Filósofo, Professor, Especialista em Linguagem e Aprendizagem.

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