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Thereza quer se apaixonar

Quem olhar de fora, pode até não acreditar, mas Thereza tem uma decisão difícil; muitas pessoas, mulheres em especial, diriam que é só frescura. Os pretendentes, até onde sabemos, três, também não veem motivos para tanta indecisão. Provavelmente, por não saberem um do outro.

O fato é que Thereza quer mesmo se apaixonar. Depois de desilusões, gostaria de encontrar alguém que realmente valesse a pena. Tem, porém, muitas considerações a fazer e inúmeras dúvidas. A primeira, que poucos têm coragem de confessar, é não saber se paixão é um ato voluntário ou não. Se é possível decidir apaixonar-se por A, B ou C; ou, talvez, esperar por um E, ou ainda F, que podem nunca vir.

As coisas podem ser mais complicadas: de tanto esperar, ou não acertar, já passou dos trinta. Além disso, há um problema sócio-cultural: ela não é rica, mas tem suas posses e, para piorar, ao menos nesse caso creio que piore mesmo, tem curso superior, inclusive doutorado; bons dotes físicos de corpo, rosto, sorriso e olhos – Ah! Seus olhos! Quanto não se encheram de lágrimas cada vez que uma amiga, menos dotada em todos os aspectos, avisava que ia se casar.

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Se bem que suas considerações, embora possam vir a ser, ainda não são matrimoniais. Trata-se apenas de paixão, por enquanto. Bem, creio não ser justo eu me adiantar em quais são suas reais intenções, pois, como tudo, é pouco provável que ela mesma saiba isso a fundo.

Os candidatos não são de se jogar fora. Há um mais bonito e um mais feio, mas nenhum é muito feio, ou bonito demais, que poderia vir a ser um grande problema; nem gordo ou burro, coisas que ela confessa abominar. Todos têm, enfim, suas virtudes em grau maior ou menor e, olhando mais atentamente, terão seus defeitos. Mesmo que haja um campeão de virtudes, ele trará consigo o contrapeso delas, como por exemplo, o mais inteligente também espera inteligência superior, e aí, talvez, ela não possa corresponder. E assim deve ser com todas as vantagens, ou defeitos, que qualquer um apresente.

Apesar dela não ser racista, B, o do meio em idade, é afro-descendente (dizem que é politicamente correto, mas eu acho o fim da picada) e isso, mesmo que, em público, negado pela maioria, trará problemas com sua mãe, declaradamente preconceituosa. O candidato C, o mais novo de todos, chegando à casa dos trinta, por pretender ganhar a vida e uma certa falta de maturidade, em geral, menor nos homens, pode não lhe atender devidamente na fase hedonista que ela ingressa – ela bem que gostaria de poder roubar umas tardes com seu amor em um dolce farniente! A, por outro lado, é bem mais velho que ela e vem com o pacote de um casamento anterior – filhos, ex-esposa, sogra (que nunca se torna ex) e tudo mais; e, embora seja o que mais lhe daria acréscimos, é por demais seguro de si.

Seria mais fácil se viesse um de cada vez, mas o destino sempre brinca. Mesmo escassos, quando vêm, vêm às pencas. E, certamente, os preteridos não vão ficar lá à espera da segunda opção, pois provavelmente, também querem se apaixonar e devem ter outras tantas que lhes guardam uma afeição especial. Talvez nem estejam apaixonados por Thereza, mas estão dispostos a tentar e, quem sabe, eu disse quem sabe, se apaixonar.

Há, porém, na história um D, por quem Thereza tem certa afeição. Ele é bem interessante. É arquiteto e artista plástico e, por mais que ela tenha lhe dado as oportunidades, este não lhe demonstra nenhum afeto especial além da amizade. Ela ainda não é apaixonada por ele, mas poderia tornar-se com facilidade, se assim eles se permitissem. Mas, assim como ela tem mais pretendentes, pode haver no caso de D também outras que lhe provoquem mais a imaginação. Em todo caso, ela crê ser mais fácil apaixonar-se por quem já lhe tem admiração.

E como tudo tem ida e vinda, tudo que sobe um dia desce, é justo considerar que ela tenha medo, pois, por experiência própria, já esteve dos dois lados do desamor, cobrando ou forjando explicações para o óbvio.

Eu lhes avisei que ela tinha um problema e não era tão fácil assim, como pode parecer a princípio! Aliás, nem sei por que estamos a discutir este assunto, que não é problema meu, nem seu, mas sim de Thereza que, no final das contas, é realmente quem quer se apaixonar.

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Antônio Fais

Colaborador

Escritor, Filósofo, Professor, Especialista em Linguagem e Aprendizagem.

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