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A cor de seus olhos

Eu nunca fui um bom aluno. Não por incapacidade, mas a escola, os métodos, as provas, as regras… Tudo era muito chato!

A duras penas, para agradar meus pais, fazia o mínimo necessário para passar de ano. Mas eles sempre tinham uma exigência a mais para que um dia “eu fosse alguém na vida”.

E sempre apareciam com algo diferente: a novidade desta vez era aprender um instrumento. Concordei e escolhi violino, algo tão estranho quanto eu.

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Durante um ano fui um aluno mediano e desinteressado. Mas um dia minha mãe precisou me deixar na casa do professor uma hora antes. Já de fora, eu ouvia um som estridente e desafinado, pior que um pernilongo em uma noite quente. Ao entrar vi que era uma menina da minha idade que conhecia de vista da escola. Eu não me conformava como alguém podia tocar tão mal.

Quando chegou a minha vez, pedi para o professor para tocar a mesma música, acho que era o terceiro minueto de Bach. Meu professor ficou impressionado com minha forma de tocar e disse: “Eu nunca ouvi você tocar tão bem!”. Eu não sabia o que dizer, nem sabia se tocava mal ou bem, acho que sempre soube tocar assim, mas nunca vi nenhum motivo para isso.

No dia seguinte, no intervalo da escola, sentei perto dela e a ouvi dizer a um amigo que a escola era muito chata, “as provas, as regras…”. Ela reclamava do professor de matemática. Não resisti e, sem sequer olhar para eles, fiz uma rápida explicação para os dois sobre a matéria que eles não tinham entendido. Eu mesmo nem sabia como sabia aquilo!

Nos dias que se seguiram minha mãe estranhava meu súbito interesse por violino e matérias da escola. Perguntava à mesa para meus pais e minha irmã mais velha (uma nerd de carteirinha) algumas coisas de física, química, biologia, história.

Na semana seguinte fiz questão de chegar bem mais cedo à aula de violino. Ana cumprimentou-me pelo nome e parecia haver alegria em sua voz. Não posso dizer que sorria pois não levantei a cabeça. Para alegria do professor tocamos juntos uma música inteira em perfeita harmonia. A cara dele era de espanto, pois sabia que não era ele quem tinha ensinado aquilo!

Na escola, eu sempre sentava perto dela nos intervalos. Revisávamos algumas aulas e resolvíamos alguns exercícios. Nunca mais levei tarefas para casa. As notas melhoraram muito. Em pouco tempo a roda em torno de nós aumentou. Aqueles colegas, agora amigos, não viam a hora de chegar o intervalo.
Assim foi o ano todo, mas como dizem “não há bem que sempre dure”, chegaram as férias. Esse mês de dezembro, tão aguardado por todos os alunos, nunca foi tão vazio, um tédio.

O que atenuava minha solidão eram os estudos de violino e resolver as questões do ENEM para quando chegasse a minha hora.

Quando, enfim, chegou janeiro, fui mais cedo à aula de violino. Ela não estava lá. Esperei ansioso chegar o começo das aulas. Aquele nosso lugar no colégio estava vazio.

Uma semana depois, descobri que ela e sua família haviam se mudado da cidade, não sei para onde, e nem me importa.

E foi aí que percebi que nem sei a cor de seus olhos.

Dan Pessoa.
(Estudante do Ensino Médio)

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