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De nariz empinado com a cabeça baixa

Humildade. Essa é uma das palavras de ordem que fazem parte de nosso cotidiano no Brasil. É condição necessária para as nossas relações sociais, verdadeira etiqueta social a nos impelir a um caminho que, em nossos diálogos, tenhamos humildade naquilo que façamos ou falemos. É humilde aquele que não fica se gabando de ter conseguido isso ou aquilo, conquistado essa ou aquela, ou seja, aquele que não deixa levar pelo egoísmo e o egocentrismo. Na Grécia antiga, a ênfase na humildade era realizada com o intuito de que evitássemos ser vítimas da hybris, o orgulho.

A ênfase na humildade como valor é de tal modo que em nosso dia a dia que, costumeiramente, vejo meus alunos adolescentes, quando resolvem falar de algo que possuem ou fazem, ou que venha a discordar do outro, introduzirem no início de sua fala a frase: na humildade e, por meio dela, deixar claro aquele que o ouve que o que ele irá dizer não é feito com o intuito de se promover ou ser superior a esse mesmo outro.

Um dos desdobramentos costumeiros dessa nossa exigência cotidiana por humildade pode ser vista também em eventos televisivos onde ficamos à espreita de alguma pessoa não humilde e essa, se em algum momento mostrar-se despida da humildade, mostrar efetivamente a sua “verdadeira cara”, a taxamos imediatamente como arrogante, vaidosa, vil e definitivamente agimos para que sua falta de humildade seja efetivamente punida.

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Concordo com um aspecto moral presente na defesa da humildade, quando esse se insurge com a tentativa de alguém buscar me submeter por meio da exposição constante de suas qualidades e capacidades, no entanto, será que não estaríamos indo longe demais em nossas exigências? Falo isso porque, muitas vezes, percebo que as pessoas e nós mesmos nos envergonhamos de, em determinado momento, deixarmos escapar uma ou outra qualidade que esta presente em nós, ou seja, o ato de possuir e manifestar qualidades passou a ser um problema em nossa cultura.

Um exemplo a esse respeito aconteceu recentemente em um uma das minhas aulas de filosofia voltada para alunos adultos que estudam na modalidade supletivo no Ensino Médio. Havia dado uma atividade onde os alunos teriam que escrever algumas coisas que não podem mudar, visto que estão além de suas possibilidades e forças e, por outro lado, coisas que necessitariam de coragem para poderem ser realizadas. Ao analisar as respostas produzidas, me deparei com a de uma aluna de 43 anos que apresentou inúmeros desafios que teve ao longo de sua vida e listou as vitórias que conseguiu, afirmando considerar-se uma vencedora frente a tudo isso e, em determinado momento, enquanto lia o texto ao lado dela, preocupada que eu não a visse como sendo uma pessoa humilde, ao seu modo ela se desculpou por ter apresentado essas vitórias dizendo que não queria em nenhum momento passar-se por arrogante. Seria realmente necessário isso? Há algum defeito em nos percebermos bons em algo ou possuirmos qualidades?

Não estou só nesse meu questionamento a respeito de alguns dos problemas presentes na humildade. Já no início da filosofia, o pensador grego Aristóteles se recusou a considerar a humildade como uma virtude e a considerou que ela se caracterizaria por manifestar um vício em relação à virtude da Magananimidade (Megalopsychia) ou Orgulho Apropriado. Para o filósofo, aquele que sabe reconhecer adequadamente suas qualidades e defeitos, perceberá que possui qualidades e as demonstrará e, por outro lado, que possui defeitos e que também os reconhecerá. Segundo ele, podemos pecar pelo vício do excesso dessa virtude e acharmos que somos perfeitos em tudo e cairmos em uma vaidade vazia e, por outro lado, não reconhecermos que possuímos qualidades e adentrarmos ao vício da falta do orgulho apropriado: a humildade.

Seguindo Aristóteles, o meu receio é que, em nosso país e em nossa cultura, talvez não estejamos sabendo equilibrar adequadamente nosso orgulho apropriado e, quem sabe, estamos enfatizando por demais o vício da falta em detrimento da busca do equilíbrio entre nossas qualidades e defeitos e, com isso, a busca, exercício e manifestação de qualidades tornou-se um grande defeito moral em nosso país.

Nesse sentido, te lanço um desafio para que você comece a se analisar frente a essa questão: Você em algum momento ficou envergonhado de manifestar ou tentou se convencer que não possui qualidades? Se a resposta sua for afirmativa, eu gostaria de te convidar a seguir o caminho proposto por Aristóteles e equilibrar essa sua balança existencial entre os defeitos e qualidades que, certamente, você possui.

Prof. Dr. Edson Renato Nardi
Coordenador – Filosofia Presencial e EAD
Centro Universitário Claretiano
(16) 3660-1777 Ramal 1472
[email protected]

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