Por: Priscila Assumpção
Eu queria saber escrever com a profundidade e simplicidade de Clarice.
Eu queria entender a língua de cada pessoa no planeta.
Eu queria poder abraçar quem precisa de consolo nesse momento. Há momentos em que não existem palavras para expressar o sentimento.
Eu queria que todos os meus desejos fossem nobres. Mas não são.
Eu queria que o vizinho parasse de tocar pandeiro incessantemente.
Eu queria que o cachorro que não para de latir à noite perdesse a voz.
Eu queria que o motorista apressado tomasse uma multa.
Eu queria…
Eu queria.
O motorista quer chegar rápido para resolver um problema urgente.
O cachorro quer chamar atenção para o aparente perigo.
O vizinho quer tocar bem para fazer parte da roda de samba.
A realidade impede de dar abraço mesmo em quem está mais próximo nesse momento.
São muitas línguas para eu conseguir aprender nesse tempo que me resta na Terra.
Clarice é incomparável.
Agora preciso preparar o almoço. Afinal, todos nós precisamos comer. Nisso, estamos de acordo.