Há queda de produção e qualidade de algumas culturas. Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) aponta danos e pede apoio aos produtores em dificuldade para quitar compromissos
Fábio de Salles Meirelles, presidente da entidade, relata ter sido feito levantamento, por meio da rede de sindicatos rurais filiados, sobre as perdas provocadas pelas geadas ocorridas em 19 e 20 de julho. “Foram dois dias de frio intenso e abrangente, que provocou danos em várias cadeias produtivas, especialmente na cafeicultura, cana-de-açúcar, milho e pastagens. Prejuízos foram reportados também nos pomares de citros, cultivos de trigo, mandioca, frutas e hortaliças”, informa, enumerando as culturas mais atingidas:
Café: estima-se que as geadas afetaram entre 10% a 20% da área nas principais regiões produtoras do Estado. A dimensão exata ainda está sendo avaliada, em função dos diferentes graus de severidade do frio que atingiram as lavouras. Os danos foram mais intensos nas lavouras novas, em áreas de plantios nas baixadas. Porém, as plantações mais maduras não passaram ilesas, o que deverá resultar em menor rendimento e qualidade na próxima safra, com o aumento de grãos pretos e verdes.
Cana-de-açúcar: na região de Ourinhos, dados preliminares indicam que a atual safra 2021/22 pode estar comprometida em até 15%. Áreas com renovação e brotação nova foram bastante prejudicadas. Nas plantações ainda não colhidas, a seca já havia provocado queda de produtividade. Com a geada, a produção que já estava prevista em volumes menores, tende a se reduzir ainda mais. Em Altinópolis, regional de Ribeirão Preto, os canaviais podem ter sido afetados em cerca de 30% da área plantada no município.
Milho safrinha: impactos severos foram registrados em municípios das regiões do Médio Paranapanema e Sudoeste Paulista. Nas lavouras em fase de florescimento e enchimento de grãos, os primeiros registros apontam uma quebra de produtividade podendo alcançar em até 70%. Nas situadas em estágio mais avançado (grão pastoso ou farináceo), a sinalização é de que o potencial produtivo possa se reduzir entre 20% e 30%.
Pastagens: os danos foram expressivos em muitas localidades, já que grande parte das áreas de pastagens em baixadas foram queimadas. Com a seca, a produtividade de massa que já havia caído significativamente, tende a ser potencializada com os efeitos da geada. Isso implicará na necessidade de suplementação dos animais, ou seja, maiores gastos com a alimentação do rebanho cujos custos já estão altos, com potencial reflexo na produção de carne e leite. Produtores de leite em sistemas semi-intensivos, em Cerqueira César, microrregião de Avaré, relataram quebra de 30% a 50% na produção em um período de três dias.
Hortaliças: perdas chegam a 15% das áreas em produção do cinturão verde, o Alto Tietê Paulista. Isso abrange um universo de dois mil produtores prejudicados. Houve redução na produção e menor qualidade dos produtos. A geada impactou também a produção nas regiões do Médio Paranapanema e Noroeste Paulista, com prejuízos estimados acima de 50%.
Impacto na saúde financeira das propriedades rurais
Além das perdas estimadas para a agropecuária paulista, que serão expressivas em termos agregados, preocupa a consequência individual para as propriedades rurais, com reflexos em termos de diminuição do faturamento, margens e incapacidade de pagamento dos custeios agrícolas. Além disso, deverá ocorrer elevação temporária dos preços dos alimentos, devido à escassez de oferta, que pode repercutir nos índices de inflação.
“Neste momento, é fundamental que o Ministério da Agricultura e, no Estado, a Secretaria de Agricultura, apoiem os produtores paulistas, pois eles terão dificuldade em honrar seus compromissos financeiros perante os credores. É preciso criar linhas emergenciais de custeio e de prorrogação de dívidas”, pondera Meirelles, concluindo: “Somente assim os produtores rurais poderão continuar se dedicando às suas atividades, contribuindo para a segurança alimentar e a paz social”.