Em 29 anos de profissão, Cibele Habermann da Silva disse nunca ter visto algo como a cena que encontrou na sexta-feira (2) em Rio Claro (SP) e que se sentiu triste e com raiva.
A oficial de Justiça que participou do resgate da menina de 3 anos que estava desnutrida na casa do pai, em Rio Claro (SP), disse nunca ter visto nada parecido em seus 29 anos de profissão.
“Muito triste, uma coisa degradante. Não dá para imaginar que um ser humano possa chegar a essa situação”, afirmou Cibele Habermann da Silva.
Após tentar falar com o pai da criança, na quinta-feira (1º) para entregar uma decisão judicial o obrigando a deixar a avó materna ver a menina, ela voltou ao local na sexta-feira (2), acompanhada por seis guardas civis municipais (GCMs) e um conselheiro tutelar.
Ela contou que conseguiu entrar no prédio com a ajuda de um morador, que abriu o portão. Ao chamar o pai da criança, ele abriu apenas um pouco da porta, mas um dos guardas interviu para que entrassem.
“O guarda civil estava do meu lado, o rapaz abriu a porta, menos de um palmo, o GCM empurrou a porta e a gente entrou.”
Segundo a oficial de justiça, a menina estava em um colchão de casal na sala, sem lençol e sujo. O local estava com mau cheiro, não havia mantimentos na casa e os móveis estavam desmontados.
“A menina estava só de fraldas raquítica e descabelada, acho que até sem forças. Não havia alimentos, o pai disse que há 40 dias ele e a criança só tomavam água. Só tinha um pacote de fraldas e shampoos infantis, o quarto da criança estava todo desmontado e no dele o guarda-roupa estava desmontado com um monte de caixas no chão.”
Cibele contou que o conselheiro tutelar pegou a criança e a levou para o pronto-socorro do Cervezão e que a perícia foi até o local.
“O conselheiro tutelar ficou louco, ele começou a meio que chorar, todo mundo ficou emocionado com aquela cena. Aí ele já pegou a menina cobriu num cobertor e pediu para chamar o Samu, eu chamei, mas eles acabaram levando a menina na viatura mesmo para o PS do Cervezão.”
Mais tarde a menina foi transferida para a Santa Casa de Rio Claro. No domingo (4), o estado de saúde dela não foi informado pelo hospital.
O pai, que tem 36 anos, também passou por atendimento médico, depois levado para o Plantão Policial, onde foi preso em flagrante. No sábado (3), ele foi solto após passar por audiência de custódia.
Como o nome dele não foi divulgado, o g1 não conseguiu localizá-lo, nem saber se ele já tem defesa constituída.
O caso será investigado pelo 3º Distrito Policial (DP) de Rio Claro, que está aguardando os laudos para dar continuidade ao inquérito.
Para a oficial de justiça, o pai da menina precisa passar por atendimento.
“Eu saí de lá com raiva, mas esse rapaz está doente, ele precisa de tratamento. Não justifica o que ele fez, mas têm várias circunstancias como a morte da mãe, um pai sozinho com uma criança de um mês em um apartamento novo, teve a pandemia, precisa pensar o que ele passou e que o levou a essa situação”, afirmou Cibele.
Resgate
Os agentes de justiça e segurança foram até a casa do pai da menina, após a avó materna não conseguir mais contato com o pai para visitar a menina, em um condomínio no Jardim Portugal. Ele também excluiu as redes sociais e se isolou, o que gerou preocupação.
A mãe da menina morreu pouco tempo após o parto e a guarda ficou com o pai, mas a avó tinha permissão para visitá-la.
Sem conseguir contato com o pai, a avó entrou com uma ação e Justiça expediu um mandado para a visita.
Os oficiais de Justiça tentaram a primeira visita na quinta (1º), mas o homem não permitiu a entrada. Eles então retornam no dia seguinte com a Guarda Civil e o Conselho Tutelar, quando entraram no apartamento e encontraram a menina desnutrida.
Fonte: g1 São Carlos e Araraquara
