Outro dia, saindo do Mercado Municipal, deparei com um senhor todo vestido de branco, sapatos, meias, camisa e um terno de linho branco. No paletó tinha penduradas várias chaves de diversos tamanhos e cores. Trazia consigo também um placa: “vendem-se conselhos” – que dava certa credibilidade pelo raro português correto!
Curioso, aproximei-me: “Quanto custa?”. “O senhor escolhe uma chave e faz uma pergunta. E paga quanto quiser”, respondeu o senhor com uma voz rouca e baixa.
Escolhi uma chave azul bem pequena que estava sozinha alinhavada na barra do paletó do lado direito. Ela saiu ao puxar sem grandes esforços. E já que eu iria pagar pelo conselho, resolvi fazer uma pergunta inteligente: “Todos dizem que o futuro do país está na educação, mas isso leva 10, 20 anos. Como podemos acelerar este processo?”.
Ele pegou a chave azul que estava em minha mão, segurou entre o polegar e o indicador e fez a seguinte pergunta: “Qual o antônimo de paz?”. Sem muito pensar, respondi: “Guerra”.
Ele, com um leve sorriso, ofereceu-me volta a chave, mas sem soltá-la. Ficamos ambos segurando a chave enquanto ele falava.
“Paz não tem seu contrário. Nossa linguagem pobre confunde nossos pensamentos e valores. Paz é uma atitude individual. É bem verdade que quem não está em paz promove discussões, brigas e guerras. Mas ainda cabe a você escolher se quer participar ou não.
Paz também não é sossego ou tranquilidade – isso se chama morte. A vida é movimento, é almejar melhorar sem chegar à perfeição. A vida se divide em conflitos necessários e desnecessários. A chave para encontrar a paz – ele olhou para a chave que ambos segurávamos – está na linguagem de seus pensamentos e falas. Um bom começo é você aprender a parar de avaliar as pessoas e fatos, apenas observá-los sem julgamento”.
“E como faço isso?”, perguntei absorto em sua fala.
“Reduza todos os seus adjetivos doravante. Os adjetivos tornam seus pensamentos e falas piegas ou agressivas, os adjetivos são apenas seus julgamentos dos fatos. Aprenda a falar com verbos e substantivos, e você terá uma fala e pensamentos isentos”.
Neste momento ele soltou a chave e estendeu sua mão aberta em espera ao justo pagamento. Peguei minha carteira e dei-lhe os cinquenta e sete reais que ali estavam, achando o conselho bem pago.
À noite, em casa, olhando à pequena chave, refleti sobre suas palavras e acho que deveria ter ido ao banco e sacado mais dinheiro para lhe dar, cem, talvez quinhentos reais.
Mas fica aqui meu conselho a você: passe pelo Mercado! Quem sabe ele tenha outros bons conselhos.