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Atlântida

Por: Antonio Fais

Pelo que me contou um grupo de historiadores místicos existiu, realmente existiu, uma cidade chamada Atlântida. Contam que ela foi criada pelo Diabo, à época irmão mais novo de Deus.

É isso aí! Deus e Diabo ainda tinham pai e era o mesmo! Fato reforçado pelo mau gosto de muitos pais de colocar nomes nos filhos com a mesma inicial.

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Dizem que seu pai permitiu a Deus, o primogênito, a título de experiência, criar o mundo, e ao irmão mais novo, para que não ficasse triste, criar uma cidadezinha.

Ah! Pouco se sabe do resto dos irmãos, mas contaram-me também que deixou uma irmã menor, meio sem juízo, Diana, criar uma árvore: a macieira; e Dora criar um bichinho: a serpente – coisas de importância menor em nossa história.

Sem querer me adiantar na história, já sabemos onde foi dar o mundo do irmão mais velho, mas nada, ou pouco sabemos, dos irmãos mais novos.

Fato é que ambos, com a autorização do pai, que era muito metódico, mas gostava, como todo bom pai, de estimular a criatividade dos filhos, fizeram suas obras e, pelo que sabemos da que sobrou e pelo duplo sentido da palavra, ela é aqui apropriada, pelo menos no que tange ao mundo.

Diabo, como o irmão caçula, quando criou Atlântida já tinha algumas informações sobre o mundo, pois aquele entrevero que se meteram Adão e Eva com Deus, por causa de criações de Diana e Dora, já havia se dado e as diversas tentativas de organizar o mundo já tinham dado com os burros n’água.

Com estas informações, além de não intervir na evolução dos moradores, fez duas coisas aparentemente ingênuas: não permitiu a propriedade privada e vetou a hierarquia. Assim sendo, eles viviam do dia-a-dia, ninguém era dono de nada e só colaboravam entre si com os que realmente colaboravam entre si. E só estes vingaram.

Criou-se ali um povo desapegado, sem preocupações futuras; solidário, onde somente os solidários e participativos ficaram. Como nada podia ser acumulado, a não ser de forma coletiva, pouco sentido tinha a produção em massa e o consumo desenfreado. Desenvolveram-se as artes e o prazer, pouco se precisando de tecnologia ou médicos, pois a morte era natural e não temiam a morte.

Onde imperava a anarquia, não havia necessidade de poder. Eram felizes.

Mas, um dia, já com o pai morto, o primogênito, agora o todo poderoso, com a desculpa que precisava reformar parte do mundo, para corrigir erros de projeto, mandou um dilúvio que destruiu Atlântida e, para que não pudessem fazer nada, baniu seus irmãos; além de mandar destruir tudo que registrasse a vida de seu pai e irmãos.

Apesar disto, o irmão mais novo ainda quis, como sempre foi generoso, consertar a obra do irmão: mandou ao mundo seu único filho, que, bom e ingênuo, foi rapidamente destruído pelo tio.

Com grande senso de oportunidade, já dominando todos os meios de comunicação, percebendo a comoção geral pela morte do sobrinho, convenceu a todos que este era o seu filho, enviado para livrar todos de suas culpas!

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Antônio Fais

Colaborador

Escritor, Filósofo, Professor, Especialista em Linguagem e Aprendizagem.

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