Por: Antonio Fais
Mais que mestre e discípulo eram amigos e nutriam um pelo outro profundo respeito e admiração. O Mestre gostava mais dele que do próprio filho, que também era discípulo!
Tornara-se Mestre por merecimento. Criara a Teoria da Perfeição – tudo caminha para perfeição. E Ele mesmo era perfeito. Todos o respeitavam e admiravam, pois sabiam que a perfeição era boa e almejavam ser como ele.
Para aquele Discípulo, no entanto, não bastava a Perfeição, ele queria o caminho que leva a ela. E, nesta busca, contestou a teoria do Mestre e criou a Teoria do Caos e chamou a teoria do Mestre de Teoria do Equilíbrio Temporário, afirmando que a antiga teoria não poderia durar. Conseguiu adeptos que já questionavam o Mestre.
Para resolver a polêmica sugeriram ao Mestre um jogo: Mundo. O jogo, a princípio, era simples: nada existia e cada um poderia criar, com o consentimento do outro, o que quisesse; mas não poderiam interferir diretamente no jogo e, uma vez criado algo, não poderiam voltar atrás. No final saberiam se o jogo caminharia para o Caos ou a Perfeição.
Um, o Mestre, resolveu criar a Luz; o Outro sugeriu que se acrescentasse a escuridão. O Outro criou as águas e o ar; Um criou a terra firme e as estrelas. Veio aí o primeiro acontecimento natural do jogo: a luz aqueceu as águas, que formou nuvens, raios e chuvas que molharam a terra. Um e Outro gostaram do jogo.
Um criou as plantas que se alimentariam de luz e água; o Outro criou os animais que podiam se locomover – mas eles passaram a se alimentar das plantas. O Mestre, antecipando a destruição geral, limitou o tempo de vida dos animais, que, mortos, alimentariam as plantas. Notaram a perfeição deste sistema e o jogo quase acabou aí.
Mas, a esta altura, haviam gostado do jogo e Um resolveu coroar sua criação com um ser que iria reger o Mundo e criou o homem. Como era a vez do Outro jogar ele criou a Culpa. Um protestou, reclamou, mas num lance de mestre, aceitou e criou o Amor; o Outro criou a Paixão. Perceberam que estava ficando perigoso o jogo e resolveram descansar e deixar o jogo caminhar por si só.
A Culpa deu origem ao Pecado; e a Paixão ao Ódio. O homem quis controlar o homem e vieram as leis de alguns homens. E tudo passou a caminhar para o Caos.
Em um ato de desespero, o Mestre resolveu quebrar as regras e colocou seu filho, agora seu discípulo favorito, no jogo, para que ensinasse a Perfeição a todos.
O Outro pediu à própria filha do Mestre, que questionou a ética do Pai, que convencesse o irmão. Maria Madalena passou 40 dias e quarenta noites no deserto com o irmão e o Mestre perdeu seu último discípulo.
Nos anos que se seguiram não houve mais acordo. Já não se falavam mais. Acusavam-se de tudo. Ambos, no entanto, renegavam a criação dos advogados, jornalistas e publicitários.
Abandonado, o Mestre ainda tentou: criou o Comunismo; mas o Outro respondeu com o Capitalismo. A bem da verdade houve aí um consenso: ambos perceberam que haviam exagerado e resolveram criar o Socialismo, mas já era tarde.
Em uma última cartada desesperada, quebrando todas as regras do jogo, para combater Osama Bin Laden, criação do Discípulo, e Sadam, criação do Mestre que também já o havia abandonado, o Mestre fraudou a eleição dos Estados Unidos para eleger Bush. Arrependeu-se e quis voltar atrás, mas não deixaram.
Neste momento o Outro sentou-se e pensou: “Não preciso fazer mais nada. Xeque-mate.”