Por: Priscila Assumpção
A neblina da manhã mudava a paisagem, fazendo com que só os objetos mais próximos ficassem nítidos. A paisagem lembrava um quadro em que o fundo é todo pintado em cores pastéis. Mesmo o sol, que normalmente é impossível de contemplar, parecia apenas uma bola branca que pouco se destacava da nuvem baixa. As árvores, já despidas de mais da metade de suas folhas, pareciam fantasmas.
Em meio à paisagem, uma figura apressada caminhava com determinação em direção ao centro comercial. Carregava uma sacola dobrada, do tipo que se usa para carregar compras sem precisar utilizar sacolas descartáveis. Os olhos estavam focados no caminho a percorrer, a mente em outro lugar, cenho franzido. De repente, parou.
Como se estivesse despertando, piscou algumas vezes e pareceu se dar conta de onde estava. Sentiu pela primeira vez o impacto da brisa gelada que contrastava com o calor que o corpo estava gerando na caminhada. Finalmente enxergou a neblina e o efeito que tinha na paisagem à sua volta. Olhou para todos os lados para ver até onde podia enxergar.
Voltou a caminhar, agora com mais calma, passos menos apressados, e não quis mais voltar a entrar no estado automático para não perder a beleza do que a cercava. Ao mesmo tempo, não podia deixar de pensar em como a paisagem a fazia lembrar da sua realidade. À sua frente, conseguia ver nitidamente apenas alguns passos. Atrás, parecia que a neblina ia cobrindo os prédios e árvores à medida que caminhava, ofuscando a memória deles. Só que, a cada passo que dava, mais outro se revelava. Era como se o passado e futuro não lhe pertenciam. Apenas o presente.
Suspirou e sorriu ao chegar a seu destino. Agora precisava concentrar na compra a fazer.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
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