Coluna da Clarice Lispector #04
Por: Pedro Vinicius Nobre de Toledo
Mateus Rosa, diagnosticado com autismo aos 2 anos e 7 meses de vida, descobriu na arte abstrata a chance de se expressar. Filho de Maria Eduarda e Milton Rosa, o menino pede para que os pais organizem o “cantinho” do artista. Com pincel em mãos, às vezes utilizando os próprios dedinhos, tintas e telas em branco o pequeno Mateus transforma sua história e de sua família.
“A gente percebeu que ele tinha dificuldade de interação social e que em ambientes muito cheios, por exemplo, ele se sentia acuado, tinha medo, não gostava de lugares com muito barulho”, disse a mãe ao G1.
“Mateus deixou de falar coisas básicas como mamãe e papai, além disso ele deixou de comer coisas que gostava e que comia normalmente. Depois de alguns meses do diagnóstico, a gente passou por um processo difícil de identificação e aceitação. Então a primeira coisa é não ignorar os sinais, porque muitos pais ficam com medo do diagnóstico, e ficam tentando acreditar que o filho não tem nada”, lembra.
O mundo colorido e o espetacular show de cores reproduzidos nas pinturas de Mateus, começou dois meses depois da descoberta de que ele era uma criança autista. “Mateus começou a pintar a partir dos 2 anos e 9 meses. A gente levou ele para uma terapeuta ocupacional e ela o estimulou a começar a fazer a pintura de dedos. Mas eu percebi que ele não gostava de pintar no papel, então a gente resolveu comprar as telas e, como terapia, ele começou a pintar em casa”, explica Maria.
O revelar da arte como uma possível forma de terapia, foi um grande divisor de águas na vida da família e do menino. “Ele não gostava do barulho, da quantidade de pessoas, de se fantasiar, não dançava. Mas, depois que ele começou a pintar, esse ano ele foi até pra festinha do São João, dançou e se divertiu muito”, diz Maria Eduarda.
“A arte transformou as nossas vidas. Antes Mateus não interagia, não olhava no olho, não aceitava ser tocado, não falava. Agora, depois da pintura, ele consegue falar, interagir com as outras crianças e obedecer aos comandos necessários para o desenvolvimento dele”, explica.
“Depois que o Mateus começou a pintar, eu percebi que ele olhava as tintas e tentava falar o nome das cores. Foi então que iniciou a comunicação verbal dele. Além disso, ele foi perdendo a rejeição que tinha à sujeira, conseguiu pintar não só com os pincéis, mas também com as próprias mãos, melhorando também a coordenação motora”.
“Ao contrário das outras crianças da idade dele, que geralmente fazem desenhos concretos, Mateus faz rabiscos. Eu acredito que essa é a forma dele de expressão, de percepção do mundo, e acaba sempre num quadro lindo de olhar, que a gente sempre atribui a um momento das nossas vidas” afirma Maria Eduarda.
O processo de criação da pintura faz com que Mateus se conecte com um mundo singular, seu próprio universo, onde ele pode se sentir livre através das “chuvinhas” de cores e desenvolver habilidades sociais, cognitivas e motoras como: o início de uma comunicação verbal, perda da rejeição a sujeira, compreensão do espaço a sua volta, melhora na coordenação motora, fácil introdução em ambientes estranhos e a felicidade adquirida no processo.
Com o intuito de divulgar e incentivar crianças com o Transtorno do Espectro Autista, os pais do Mateus criaram um perfil no Instagram (@eleartista), onde postam fotos diárias das pinturas.
As telas espetaculares com verdadeiros shows de cores, já ganha fãs por todas as partes do mundo, tendo obras vendidas diariamente de norte a sul do Brasil e em vários outros países.
“A gente não tinha pretensão de vender as telas pintadas por Mateus, mas quem olha os quadros se apaixona e pede pra que a gente reserve, pra que a gente venda. Então a gente decidiu fazer isso, mas todo o dinheiro é usado pra comprar as tintas e novas telas em branco, pra que ele continue pintando”, conclui Maria Eduarda.
Nobres Reflexões é escrita por Pedro Vinicius Nobre de Toledo, estudante do 3° Ano do Ensino Médio, da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza e é participante do Jornal Quincas Borba, da Rede Camões de jornais escolares. O projeto tem fins pedagógicos e é realizado por alunos da rede estadual de ensino dentro das atividades de língua portuguesa. Visite nosso site: