Nós precisamos nos tornar a mudança que queremos ver no mundo. Inspiradora essa frase não?! Costumeiramente ela é vista aqui e ali em adesivos nos carros, perfis do facebook e mensagens via WhatsApp. Em algumas delas, é atribuída sua autoria ao líder da libertação indiana, o carismático e inesquecível Mahatma Gandhi mas, se você investigar à fundo sua origem, verá que essa pretensa autoria não é tão certa assim.
Independente de quem seja o autor, ao me deparar pela primeira vez com essa frase, ela me lembrou uma máxima confucionista que é mais ou menos assim: “Para colocar o mundo em ordem, devemos primeiro colocar a nação em ordem; para colocar a nação em ordem, devemos primeiro colocar a família em ordem; para colocar a família em ordem; devemos primeiro cultivar nossa vida pessoal; primeiro devemos acertar nossos corações ”.
Perceba que em ambas as máximas, esta presente a ideia de que as grandes mudanças necessariamente deveriam começar por impactar a nós mesmos, ou seja, ao mudar as minhas atitudes e ações, paulatinamente eu começaria a mudar a minha realidade externa e atingir as pessoas que me cercam.
Mais ainda, se nos é apresentado esse convite para que realizemos esse procedimento, talvez isso indique que costumeiramente não fazemos o que ele propõe e o convite vem como uma espécie de alerta para que comecemos a fazê-lo.
Se essa última hipótese for verdadeira, por que será que é assim? Por que será que há essa distância tão grande entre o que professamos para os outros e o que fazemos em nosso cotidiano?
Os gregos no período clássico tinham um termo específico para quando ocorria isso, o termo ficou conhecido entre nós como hipocrisia. Nessa palavra temos prefixo grego hypo que significando “baixo”, e o verbo krinein, que significa “peneirar ou decidir”, ou seja, ao juntarmos ambas, temos por significado a incapacidade ou deficiência de alguém peneirar ou decidir.
Desses elementos, eu me arriscaria a responder que, para mudar a nós próprios, teríamos que vencer hábitos estabelecidos, mazelas cristalizadas, deslizes escondidos e todos esses, como você bem sabe, implicariam no desafio de uma auto reconstrução, exercício que é feito solitariamente, quase sempre é doloroso e, muitas vezes, teremos que tirar aquilo que se encontra escondido em nosso tapete existencial e que, muito provavelmente, procuramos mantê-lo sempre longe de nossa vista. É mais fácil e menos desestabilizador pedirmos ao outro que realize esse exercício.
Em razão disso, gostaria de te fazer um convite: como tem ocorrido a relação entre o que você faz e o que você deseja que os outros façam? Está havendo uma certa reciprocidade nessa relação? Se a resposta for integralmente ou parcialmente negativa, saiba que você não está só nela, me irmano nela também e estou cá pensando comigo mesmo: qual das mudanças iniciarei dentro de mim mesmo…?
Prof. Dr. Edson Renato Nardi
Coordenador – Filosofia Presencial e EAD
Centro Universitário Claretiano
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