Tenente de Rio Claro foi um dos dois sobreviventes de combate suicida no Rio de Janeiro / Entrou para a história como um dos comandantes da maior marcha militar do mundo / Morreu ao tentar evitar o comunismo no País
O confronto
Os militares revolucionários do Rio de Janeiro estavam prontos para se rebelar com o objetivo de derrubar o presidente da República e evitar a posse de seu sucessor, ambos hostis aos militares.

O episódio
É 5 de julho de 1922. De manhã. Movimento revolucionário é deflagrado a partir do Forte de Copacabana conforme o combinado. Logo de início as demais guarnições revolucionárias da cidade se rendem em combates isolados.
O Forte de Copacabana fica sob cerco e passa a ser bombardeado. Responde com canhões. Dos iniciais 301 revolucionários 272 se rendem e saem do local.
Em armistício, o comandante deixa o Forte para negociar com as forças do governo um cessar fogo mútuo dos canhões e as condições para a rendição. Traído no acordo, é preso.
O governo descarta negociação e exige rendição incondicional dos demais. A guarnição dos 29 rebeldes restantes no Forte fica isolada sob o comando do tenente rio-clarense Antonio Siqueira Campos.
Sacrifício
Os últimos rebeldes resolvem manter a luta. O tenente Siqueira Campos decide deixar o Forte para o martírio da luta peito a peito em campo aberto. É acompanhado por dezessete voluntários que avançam pela Avenida Atlântica sob uma chuva de balas dos soldados que os cercam.
Cada um dos rebeldes traz consigo um pedaço da Bandeira Nacional dividida entre eles como compromisso de honra. Um civil se junta ao grupo.
Todos são mortos. Com exceção de dois. Um deles é Siqueira Campos. Apesar de ser atingido à baioneta no fígado ele sobrevive. O outro sobrevivente é o tenente aviador Eduardo Gomes, com o fêmur quebrado. O episódio entra para a história nacional como Os Dezoito Heróis do Forte de Copacabana. Rebeldes que não são presos fogem para o exílio.
As causas de 1922
O autoritarismo do governo civil que repelia reivindicações militares levou ao confronto de 1922.
O levante do Forte de Copacabana no dia 5 de julho aconteceu porque três dias antes o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca havia sido preso por conspiração que insinuava seu interesse em voltar ao poder.
O presidente Epitácio Pessoa deu início à sequência de governantes civis antidemocráticos. Ele havia nomeado ministros civis para as pastas militares a fim de deixar clara sua hostilidade às Forças Armadas.
Os rebeldes de 1922 reivindicavam direitos militares e queriam evitar a posse do presidente eleito Artur Bernardes, até hoje considerado o pior presidente que o Brasil já teve. O governo de Bernardes equivaleu a uma ditadura retrógrada, com estado de sítio, censura, tortura e campos de concentração.
Consequências
Os conflitos desencadeados por Epitácio Pessoa para eleger seu sucessor Artur Bernardes se estenderiam até a Revolução de 1930 quando Getúlio Vargas tomaria o poder, aliado a militares rebeldes.
Sequências
Sobrevivido aos combates em 1922, o tenente Antônio Siqueira Campos exilou-se na Argentina. Voltou ilegalmente ao Brasil e manteve-se em conspiração contra o poder dos governantes ruralistas. Participou da seguinte e também frustrada Revolução Paulista desencadeada em 5 de julho de 1924 para retomada da luta anterior. A data de 5 de julho foi escolhida de propósito para celebrar o levante de 1922.
Fracassada em 1924 a segunda tentativa de revolução então liderada por paulistas, os rebeldes vencidos e Siqueira Campos escolheram uma nova estratégia. Foi a chamada Guerra de Movimento, com os combates mantidos ao longo de marchas feitas pelo interior do país, sem conquista de territórios.
A estratégia foi colocada em prática a partir da junção no Paraná em 1925 dos paulistas derrotados com tropas revolucionárias gaúchas liberadas por Luis Carlos Prestes. A proposta da luta de guerrilha por colunas em marcha foi feita por Prestes.
As forças revolucionárias seguiram em combate até 1927 sem nunca terem sido vencidas.
Cruzaram diversos estados. Siqueira Campos foi um dos comandantes de tropas naquela luta que ficou conhecida como coluna Miguel Costa-Prestes ou Coluna Invicta. Paulistas e gaúchos percorreram 24 mil quilômetros sempre em luta. A Coluna entrou para a história como a maior marcha militar do mundo.
Depois de exílio na Bolívia e Paraguai, lideranças da Coluna aliaram-se a políticos que com Getúlio Vargas tomaram o governo em 1930.

Morte
Siqueira Campos morreu naquele mesmo ano, em 1930. Ele não chegou a ver a vitória dos revolucionários com Vargas. Morreu afogado no Rio da Prata quando retornava para o Brasil de uma viagem à Argentina. O avião em que seguia sofreu uma pane e caiu na volta da reunião que ele mantivera com Luis Carlos Prestes no exílio em Buenos Aires.
O tenente tinha ido tentar demover Prestes da decisão do líder gaúcho de aderir ao comunismo internacional. Não obteve sucesso. Prestes se filiou ao Partido Comunista.
Todos os detalhes da vida e lutas de Siqueira Campos estão nos livros de história. Ele é o rio-clarense mais glorificado de todos os tempos. Seu corpo está sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.

Perfil
A família de Antônio de Siqueira Campos era original de Pernambuco. O pai Raimundo e o tio Manoel estabeleceram-se em Rio Claro. O tio foi advogado, juiz, vereador e presidente da Câmara Municipal.
Por sua vida heroica, em 1930 o governo revolucionário de Rio Claro denominou Siqueira Campos o Largo da Estação. Herma em sua homenagem foi instalada no Jardim Público dez dias antes da última revolução militar, em 1964.

Homenagens
Na cidade de São Paulo seu nome batiza o Parque Tenente Siqueira Campos mais conhecido como Parque Trianon.
Quinze estados têm municípios que preservam a memória de Siqueira Campos em espaços públicos:
Acre (Sena Madureira), Alagoas (Maceió), Bahia (Salvador, Vitória da Conquista), Ceará (Crato), Minas Gerais (Belo Horizonte), Pará (Óbidos, Santarém) Paraíba (Campina Grande), Paraná (Curitiba, Ponta Grossa, Siqueira Campos), Pernambuco (Cachoeirinha, Chã de Alegria, Paulista, Santa Cruz do Capibaribe, Recife), Piauí (Campo Maior), Rio de Janeiro (Campos, Niterói, Rio de Janeiro, São Gonçalo), Rio Grande do Sul (Porto Alegre), Santa Catarina (Florianópolis, Mafra), São Paulo (Araçatuba, Ariranha, Birigui, Campinas, Caraguatatuba, Descalvado, Embu, Jacareí, Lençóis Paulista, Monte Mor, Pederneiras, Pirassununga, Presidente Prudente, Rio Claro, Santo André, São José dos Campos, São José do Rio Preto, São Miguel Arcanjo, São Paulo, Sorocaba), Sergipe (Aracaju).
Uma cidade do Paraná traz seu nome.
