Poucas coisas causam mais estranheza do que ouvir a própria voz.
A imagem parada no espelho não reflete quem somos, nem nossa voz, nem nossa alma. Não nos vemos como os outros nos veem e vice-versa
Somos estranhos para os outros, que nos olham de fora, e ainda mais estranhos para nós mesmos.
Para um animal isso é mais simples, pois ele mira apenas a caça e o caçador, pensa em comer e não ser comido, ele não pensa no que pensa, não vê o avesso nem o avesso do avesso.
O pensamento é um espelho pretencioso que, olhando de fora, almeja ver dentro, e, olhando de dentro, quer ver fora, como se fosse possível ver o avesso do avesso do avesso do avesso.
Esses dois espelhos que refletem a si mesmos nada dizem, são apenas sombras das próprias sombras para as quais não há luz suficiente.
Onde não há luz não há sombras. Desfaça-se a luz! Desfaça-se o verbo!
Viva o silêncio da escuridão.