Dados mostram que idosos, principalmente homens, continuam entre os mais vulneráveis, reforçando a urgência de políticas de cuidado e acolhimento.
Por Rafael Masiero Panucci
O Setembro Amarelo marca o mês de conscientização sobre a prevenção do
suicídio, mas é importante destacar que o cuidado com a saúde mental deve ser
permanente, e deve ir além das campanhas sazonais. A busca por apoio
profissional, com psicólogos e psiquiatras, faz parte do processo, mas estratégias
de promoção de qualidade de vida — como sono adequado, alimentação
equilibrada, prática de atividade física, lazer e cultivo de espiritualidade ou
propósito — são ações que fortalecem as proteções contra o sofrimento psíquico.
Diversos estudos e boletins oficiais mostram que pessoas com ideação suicida
frequentemente apresentam algum diagnóstico prévio de transtorno mental,
sobretudo depressão, ansiedade ou abuso de substâncias. Outro dado
preocupante se refere à população idosa. Nos últimos cinco anos, a taxa de suicídio
entre idosos permanece significativamente mais alta em comparação à média
nacional, inclusive com aumento em alguns períodos. Em 2021, por exemplo, a taxa
anual entre brasileiros com mais de 60 anos foi de 7,8 suicídios por 100 mil
habitantes, enquanto a população geral apresentou 6 por 100 mil. Além disso,
análises de tendências mostram que essa taxa manteve-se cerca de 47% acima da
média nacional nos últimos anos.
No recorte de gênero, o suicídio é claramente mais prevalente entre homens
idosos: no Brasil, em 2021, o índice registrado foi de 14,8 mortes por 100 mil
habitantes para homens com mais de 60 anos, contra 2,6 para mulheres no mesmo
grupo etário. Os homens tendem a concretizar o gesto de forma mais letal e
impulsiva, enquanto as mulheres realizam mais tentativas não fatais. Esse perfil
revela que, apesar de ambos os sexos enfrentarem dificuldades na velhice — como
perdas afetivas, autonomia, vínculos sociais e condições de saúde —, fatores
culturais, sociais e de enfrentamento emocional tornam os homens idosos grupo
especialmente vulnerável.
Quanto à evolução dos casos, pesquisas epidemiológicas mostram que, entre 2012
e 2016, a taxa de suicídio entre idosos no Brasil permaneceu estável (cerca de 8
mortes por 100 mil), mas o número absoluto de óbitos aumentou devido ao
crescimento populacional da faixa etária. Em números totais, o Brasil chegou a
registrar cerca de 14 mil mortes por suicídio entre idosos em 2021. O aumento
percentual foi pequeno, mas preocupante, o que reforça o alerta contínuo para a
prevenção neste grupo.
A literatura científica também destaca diferentes fatores de proteção
biopsicossociais que reduzem o risco de suicídio. Entre eles, destacam-se: a
manutenção de redes de apoio social e familiar, participação em atividades
comunitárias, engajamento em práticas de lazer e exercício físico,
acompanhamento médico regular, acesso facilitado a serviços de saúde mental,
além do desenvolvimento de projetos de vida e senso de propósito. Evidências
indicam ainda que a espiritualidade e a religiosidade podem atuar como recursos
importantes, associando-se a menor risco de suicídio em diferentes faixas etárias,
seja pelo suporte social oferecido, seja pelo fortalecimento de emoções positivas
e do significado existencial. Quando combinados, esses fatores ampliam a
resiliência individual e coletiva, funcionando como barreiras efetivas contra a
ideação suicida.
Colaborador: Rafael Masiero Panucci | Psicólogo CRP 06/113852. Responsável pela Clínica Panucci