A pandemia é hoje o maior inimigo da espécie humana. Exacerbou divisões e aumentou todos os medos imagináveis num ambiente de desconhecimento enorme sobre uma nonopartícula.
Os americanos despontam com números assustadores quanto à fatalidade dos crescentes infectados.
E é justamente dos americasos (ou melhor, de seu exército) que veio a expresssão VUCA (em inglês), muito apropriada para dizer da atual pintura, em que o mundo se transforma em velocidade acelerada e com destino incerto, levando a váriadas respostas sobre uma mesma questão.
VUCA descreve volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade nas diversas situações e contextos para o enfrentamento de ambientes extremamente agressivos e desafiadores.
Estamos numa verdadeira MU-VUCA, é o que se pode afirmar sem sombra de dúvidas.
A volatilidade está presente na velocidade com que o Covid 19 impôs mudanças e impactos. Nada é permanente e as tecnologias, tendências e certezas são inconstantes e mutáveis. Quanto à incerteza, ontem – poucos meses atrás – foi de um jeito, hoje já mudou tudo surpreendentemente, trazendo dúvidas, indecisões e imprecisões diante de conhecimentos incompletos. Não dá mais para desenhar cenários futuros com base sólida nos acontecimentos passados. Não dá mais para fazer previsões ante a incerteza que traz de carona a imprevisiblidade e a inevitabilidade. Não podemos controlar nada como pensávamos ser possível. Winston Churchill dizia “quão espesso e desconcertante é o véu do desconhecido”!
Da complexidade do comportamento VUCA vem a dificuldade de adequada compreensão de resultados das interações de incontáveis variáveis sobre situações em concreto. Parece que nada se encaixa!
A ambiguidade informa que existem várias possibilidades de caminhos diferentes. Várias respostas a uma única questão, sem certeza de melhor solução, ante a imcompreensibilidade da própria pandemia, sua origem e como enfrentá-la com precisão.
Diante disso, a constatação é a de que tudo mudará: do cientista, passando pelo banqueiro, empresário, político, religioso, filósofo, até pelo artista, nada será como antes, até porque, como afirmou Peter C. Baker, o coronavírus “é uma dúzia de crises emaranhadas numa só, e todas se desenrolam imediatamente, de modo inescapável”.
Por agora, o único objetivo da política econômica é evitar a ruptura social, diante da frustração acumulada, perda de poder aquisitivo e qualidade de vida (imaginar como ficará quem já estava na miséria meses atrás é contundente demais).
Empresária e psicóloga, Viviane Senna falou à revista “Istoé” dias atrás sobre não mais existir certezas diante da recente surpresa e desorganização da sociedade em todo o mundo. Diz que transformações importantes, que demorariam décadas, deverão ser aceleradas: no lugar do uso da razão, a pandemia impõe colaboração, empatia, confiança, respeito, persistência, disciplina, criatividade e estabilidade emocional. A ideia de que tudo voltará ao normal não vingará de jeito nenhum.
A massa de indivíduos competindo uns contra os outros por riqueza e status sai de cena e surge a igualdade. Segundo Viviane, o vírus ensina que divisão entre rico e pobre, partidos e ideologias, disputas políticas, religiosoas e econômicas importam pouco agora. “É como se o vírus estivesse dizendo que nós somos uma única humanidade. A gente recuperou de novo uma unidade que havia sido perdida, uma unidade que mostra que nós somos um único organismo e quando um membro sofre, todos sofrem”.
Ao leitor (que tiver estômago) recomenda-se “O Poço”. Trata o filme, sem cortes ou melindres, da degradação da humanidade frente aos sistemas que ela mesma criou: a separação entre ricos e pobres, norte e sul, os que querem ascender e os que concordam em descer e dividir, caracterizam a película do início ao fim, tem muito a ver com a necessária mudança anunciada por Senna, a qual virá para ficar, espera-se!
William Nagib Filho
Advogado e Conselheiro da OAB/SP