Série Stranger Things fez a banda Metallica voltar ao topo das paradas com música lançada em 1986.
Neste Dia Mundial do Rock, celebrado em 13 de julho, os motivos para comemorar a data são muitos, porém o principal deles se chama Metallica. Trinta e seis anos depois do lançamento do icônico disco ‘Master os Puppets’, os norte-americanos retornam às paradas de sucesso com a canção homônima de 1986. O sucesso é resultado de uma cena específica da série Stranger Things, disponibilizada no serviço de streaming Netflix, e que se tornou a favorita do público jovem.
No último episódio da quarta temporada, o personagem Eddie Munson, interpretado por Joseph Quinn, empunha uma guitarra Warlock NJ Series para lutar contra “morcegos” do mundo invertido. “Stranger Things elevou a canção Master of Puppets para fora da bolha, do egoísmo possessivo dos cansativos ouvintes radicais, os ‘true’. E ela pertence ao último álbum do finado baixista Cliff Burton, morto aos vinte e quatro anos. Aos detratores que dizem que vivemos ‘a era do esquecimento’, está aí uma boa prova de ‘permanência’ do que realmente é substancial. Espero que as pessoas percebam, ao procurar outras canções do grupo, que os músicos eram ávidos leitores, tinham uma veia cinéfila e daí a evolução criativa, a maturidade neste terceiro álbum, tão atual: a construção de Master of Puppets é refinada, remete a uma empolgante ópera rock”, avalia o baixista da banda Garrafa Vazia, Mario Mariones, que também é formado em Rádio e TV.
Segundo a jornalista do site Rock Feminino e escritora Vivian Guilherme, essa visibilidade dada ao Metallica pode trazer novos fãs para o estilo, que há algum tempo não figura nas paradas brasileiras. “Infelizmente, o rock que antes era visto como um estilo jovem e rebelde acabou se tornando – como diz a geração Z e Alpha – ‘música de tiozão’. Em grande parte por desconhecimento, pois muitos acabam se restringindo às músicas de Tik Tok, às modinhas das redes sociais e playlists dos streamings. Por isso é tão importante essa conversa entre as ‘modalidades artísticas’”, avalia.
Para Mariones, os filmes e séries podem ajudar a divulgar e consolidar o trabalho de um artista, sendo muito importante este diálogo. “Embora, creio que, em alguns casos, a curadoria deva ser mais cuidadosa, criteriosa. É bem comum ver filmes e séries se valerem desse artifício de empilhar ‘trocentas’ músicas num curto espaço de tempo, geralmente pra tapar um roteiro preguiçoso, diluído naquelas desgastadas fórmulas ‘tudo em nome audiência’. Acho triste essa vala da ‘era do pedacinho’. A música utilizada deve ser valorizada, respirar em cena, pra revelar minimamente seu contexto, seu entorno.”
Combinar as mais diversas artes não é novidade e foi artifício utilizado por escritores e cineastas ao longo da história. “ A franquia Resident Evil utilizou a canção ‘What’s Up’, da banda americana 4 non Blondes, o filme Thor, a icônica ‘Sweet Child ‘o Mine’, dos Guns ‘n Roses. Até mesmo a cantora Kate Bush viu sua popularidade aumentar com Stranger Things. É uma conversa muito saudável e mostra a abrangência da arte como formação. Os livros da atual best seller Colleen Hoover trazem menções a canções, Stephanie Meyer alavancou bandas de rock e até música clássica em sua trilogia Crepúsculo, mas antes disso tínhamos Kerouac. E o caminho inverso também existe, com músicas que citam livros, filmes e até quadros. É um estímulo para o consumo de arte e cultura, em um tempo em que tudo está disponível e acessível na internet, mas que ao mesmo tempo, está tão distante dos jovens”, declara Vivian, que se inspirou na música para escrever seu primeiro romance, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2022.