Por: Priscila Assumpção
Digam o que disserem, estou certa de que há roupas que conspiram contra nós. Quando você mais precisa delas, elas aprontam com você.
Era minha primeira entrevista de emprego na vida. Não sabia nem o que esperar. Estava aguardando minha vez, dando uma última olhada no espelhinho da bolsa para ver se estava tudo em ordem. Já tinha ouvido conselhos, histórias, mas nada me preparara para o que iria acontecer.
Chamaram meu nome e lá fui eu conversar com o entrevistador. Entrei em uma sala bem decorada, com uma mesa que gritava “eu sou o chefe” perto da janela, e meu entrevistador me recebeu em pé, continuando detrás da mesa, com seu terno azul marinho e gravata azul clara, contrastando com a camisa branca. Fiquei feliz que eu também tinha escolhido minha melhor calça e blusa para essa entrevista. Apertamos as mãos e ele me convidou a sentar na cadeira que estava colocada em frente à mesa.
Ao sentar-me, um barulho pavoroso me fez corar até o último fio de cabelo. RAAAASSSSGG. A costura de trás abriu da cintura ao cavalo. O entrevistador parecia nem ter percebido. Não sei até hoje se o pavor transparecia no meu rosto, mas ele continuou falando como se nada tivesse acontecido. Devo ter respondido qualquer coisa às perguntas que me fazia, no automático, mas minha mente buscava, desesperadamente, o que fazer quando acabasse a entrevista e eu tivesse que sair da sala. Sair de ré? Ficaria muito estranho.
Foi então que lembrei que eu tinha um pequeno estojo de costura na minha bolsa, que minha avó havia me dado no último aniversário. Ufa. Não precisaria ir até em casa nesta situação. Mas, e para sair da entrevista?
Não posso dizer que foi a ideia mais brilhante que já tive, pois nem imagino o que se passou na cabeça do entrevistador. Resolvi ir puxando a blusa de dentro da calça, bem devagar, tentando disfarçar o movimento, para que cobrisse o estrago. Pergunta, resposta, puxada na blusa. Pergunta, resposta, puxada na blusa. Até o fim da entrevista, a blusa já estava cobrindo a desgraça. Agradeci e saí para me dirigir rapidamente ao banheiro mais próximo, não deixando de reparar no olhar um pouco confuso do meu entrevistador.
Neste dia, descobri que não se morre de vergonha, e nem seria a última calça que me trairia. E vida que segue!
PS. Não consegui o emprego.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
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