Levantamento feito por empresa especializada em transformação digital (Revista “Dinheiro” 1174) com 1314 pessoas de 13 a 81 anos do país todo, indica que, durante a pandemia, 82,4% da Geração Z (13-20 anos) consumiram conteúdos ligados à música, além de 75,6% dos Milleniais (21-35 anos), 55,4% da Geração x (36-54 anos) e 46,6% dos Boomers (55-81 anos).
Artigo publicado nas redes sociais pelo músico Renato Gonçalves ressalta que, nas varandas, nas lives e em todas as redes sociais, a música dita a resposta natural ao momento necessário de conscientização e união quando se tem que ficar recluso em casa por tantas semanas (não se sabe por quantas mais ainda!)
Shows virtuais são louváveis. Para os grandes e consagrados artistas, detentores de polpudas reservas em caixa, manter-se na mídia pelas bem produzidas lives e ajudar em campanhas de arrecadação de toda espécie (por vezes sob o patrocínio de marcas fortes do mercado consumidor) é bem gratificante.
Mas como está hoje o músico que, desesperadamente e sem recursos para sobreviver, também vem produzindo belas lives sem nenhum rendimento ou patrocínio? É esse músico que compõe bandas de apoio de artistas país afora, mais ou menos famosos; é esse músico que faz casamentos e eventos corporativos; que integra orquestras e bandas sinfônicas; que atua em musicais; que agita as baladas, bares, clubes; que ministra aulas e atua em estúdios de gravação, num Brasil cujo povo, a um só tempo, consome tudo que pode em termos de música na web durante a pandemia, mas não tem apreço algum ou consideração pelo profissional músico.
O povo recluso quer de graça a única coisa que esses artistas têm a oferecer: suas vozes e performances diárias.
Pesquisa recente nos EUA assegura que apenas 3% dos jovens pretende ir a um show ao vivo nos próximos dois meses e 29% das pessoas consideram comparecer nesse tipo de evento num período superior a seis meses. Concertos eruditos demorarão muito para retornar à ativa. Na Europa algo recomeça, com muitas regras de distanciamento e plateia diminuta.
Vai demorar no Brasil para retornarem (se conseguirem recomeçar) as casas de shows, bares e clubes, concertos em teatros, musicais, casamentos, eventos sociais e corporativos, dentre outros.
O público, que tanto curte lives e música de todos os gêneros, pode sim dar a sua contribuição solidária num momento tão difícil. Como afirmou Renato, “Todos querem consumir música, mas nem todos querem remunerar os músicos. Já passou da hora de encararmos o trabalho do músico para além de altruísmo e, neste momento de crise em que valorizamos a música, repararmos (nos muitos sentidos que o termo traz) a sistêmica desvalorização dos músicos”.
Vão-se as dicas: que tal pagar adiantado a banda do casamento, do “níver”, ou daquele evento que será reagendado? Que tal adquirir antecipadamente ingressos de apresentações futuras? Por que não pagar antecipadamente a aula do professor de música do seu filho ou torná-la virtual? Por que não adquirir horas de estúdio de gravação de jingles por antecipação até que tudo volte ao normal? Por que não contratar artistas e bandas para lives exclusivas direcionadas à família e amigos em datas festivas?
William Nagib Filho, gestor da Orquestra Filarmônica de Rio Claro e da Casa de Cultura Paulo Rodrigues.