Por: Priscila Assumpção
“Errar é humano. Para fazer uma ‘caca’ realmente enorme, é preciso um computador.”
– Tradução de um sticker dos anos 80
Nervos à flor da pele, tendo acabado de deixar o bebê na creche após ter passado metade da noite acordada com ele, Melissa resolve passar no supermercado antes de voltar para casa para mais um dia de trabalho remoto.
“É melhor ninguém mexer comigo hoje. Estou por aqui dessas pessoas que insistem que máscara protege contra a Covid-19!”, pensa, já se preparando para a briga que sabe que vai acontecer quando entrar na loja. Mas se sentia preparada para enfrentar qualquer um, inclusive a polícia. Já tinha assistido vários vídeos falando sobre os perigos de usar máscara e como não podiam obrigá-la.
Os vídeos que contradiziam esse ponto de vista eram ignorados, pois não queria perder tempo precioso ouvindo pessoas que deviam ter alguma agenda escondida para falar tais coisas. Então pegou sua bolsa, saiu do carro e foi direto para a loja, marchando com a sensação de ter a verdade do seu lado.
Dito e feito. Assim que entrou na loja, percebeu olhares feios de outros clientes e logo veio uma funcionária falar para ela que precisava de máscara para fazer compras ali. Ela começou a apresentar todos os argumentos lógicos que aprendera nos vídeos, e fincou o pé que não sairia sem suas compras.
No começo da discussão, tentou falar de maneira calma, assim como a funcionária, mas começou a elevar a voz quando não se sentiu ouvida. No fim, a compra de 10 minutos acabou virando uma briga de meia hora, e, para piorar, alguém filmou tudo com o celular para colocar na internet. E quanto mais Melissa ficava nervosa, mais perdia o controle do que saía de sua boca e acabou usando palavras de baixo calão que ficaram gravadas para sempre.
Melissa voltou para casa tremendo, chorando, e acabou se arrependendo de ter agido daquela maneira, mas estava com vergonha demais para pedir desculpas. Não entendia por que era tão difícil das pessoas entenderem a verdade que, aparentemente, só ela enxergava.
No final da tarde, o chefe de Melissa ligou para ela. O vídeo havia viralizado, com meio milhão de visualizações em 4 horas, e não havia mais como mantê-la como funcionária na empresa. Não podiam mais associar o nome da empresa ao dela. Em estado de choque, foi buscar o bebê na creche. Conseguiu cumprir suas tarefas no automático. Mais uma noite em branco.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.