Por: Priscila Assumpção
Os segundos passavam lentamente. A mão dos minutos se aproximava vagarosamente do 12. “Ainda dá tempo”, eu pensava a cada minuto que passava. O único som que penetrava meus ouvidos era o tic-toc que parecia ficar cada vez mais alto e mais lento, como aquelas cenas em câmera lenta que vemos nos filmes para efeito dramático. Tic….toc………tic………..toc. Até que a mão do relógio chegou no 12. Não dava mais tempo. Ele não mudou de ideia. Perderíamos o filme, e ele estava fazendo esse grande sacrifício de perder o filme por minha causa.
Olhei para meu pai. Era incompreensível o tamanho do preço que ele tinha que pagar por eu ter feito algo errado e merecer a punição de não assistir o filme com o resto da família. A desobediência fora minha. Eu não havia ido tomar banho na hora que mandaram. Eu não acreditara que cumpririam a ameaça de eu ficar de fora do filme no cinema caso não obedecesse. Pensara que ninguém mais seria prejudicado por minha causa. No entanto, cá estávamos nós. Eu e meu pai. Eu por merecer. Ele por me amar.
Quando vi que realmente não dava mais tempo de entrar e assistir ao filme, o peso do castigo tornou-se mais real. Minhas orações para que Deus fizesse meu pai mudar de ideia não haviam sido atendidas. Ele ficou firme:
– Não é não.
“Mas, Senhor, meu pai vai sofrer junto comigo. Isso não é justo”, implorei silenciosamente ao Pai dos pais. Me doeu mais o fato dele ter que perder o filme do que eu perder o filme e o prazer de estar sentada entre meus irmãos e perto dos meus pais. Esse peso fez com que meu coração ficasse muito apertado. Levantei os olhos para meu pai. Estava calmo, tranquilo, se distraindo com alguma coisa que nem lembro mais o que era.
O vi como nunca o havia visto antes. No auge dos meus 9 ou 10 anos, apenas o via como aquele homem que passava o dia trabalhando, nos levando para passear no final de semana, nunca deixando que faltássemos à igreja, que gostava de fazer algumas coisas diferentes, como pilotar avião, e que era incansável. Mas, naquele dia, parecia que estava olhando para um representante de Jesus, disposto a dar a própria vida por mim. Por meu pecado, ele também teve que pagar o preço alto. O sacrifício máximo!
Se olharmos com atenção, tenho certeza que vamos ver que há muitos anjos à nossa volta: um amigo, um parente, um colega, um chefe, um professor.
Para quem posso ser um anjo hoje?
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
Confira outros artigos da autora: