Por: Claudia Elisa Soares, especialista em ESG
A relevância das ações ESG para as empresas vai além da tendência mercadológica. Investidores e lideranças entendem que as práticas ESG funcionam como uma forma de avaliar o impacto socioambiental das companhias, além de servir como bússola para tomadas de decisões e evitar riscos que afetem o desempenho de longo prazo.
Neste sentido, 81% das lideranças corporativas acreditam que o ESG é importante ou muito importante, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, em parceria com o Instituto FSB. A governança é vista como o fator mais relevante por eles (39%), enquanto que o social surge com 29% e o ambiental com 23%, indica o estudo.
Porém, o que mais chama atenção nesse levantamento é a quantidade de tomadores de decisão que admitem estar pouco ou nada familiarizados com a sigla: 72% dos entrevistados.
A falta de engajamento e até mesmo o insucesso na aplicação de ações ESG nas empresas acontece, principalmente, por conta dos conselhos com “mentalidade executora”. Ou seja, os boards que em vez de se concentrarem nas diretrizes estratégicas, passam a maior parte do tempo abordando o ESG sob os vieses operacional e tático, dentro da “zona de conforto” das habilidades e conhecimentos de parte dos seus integrantes.
Esse fenômeno é resultante de um processo de recrutamento de Conselho não alinhado aos novos tempos, feito com base em skills valorizadas no passado. Dessa forma, esses Advisors se sentem mais à vontade com questões de controle de sustentabilidade do que em desenvolver um pensamento crítico e propositivo à nova governança do negócio.
Assim, resta pouco espaço na agenda para o debate estratégico que gere valor, proponha um novo olhar e estimule a liderança a repensar o negócio visando seu crescimento sustentável que é, afinal, o verdadeiro propósito de um conselho. Neste sentido, para corrigir essa distorção, é necessário investir em três pilares:
1) Diversidade
Em razão do período de mudanças amplas e disruptivas em que vivemos, temos defendido a importância da diversidade em todos os patamares das empresas, não apenas por uma questão de inclusão social, mas também por uma questão estratégica. Está mais do que comprovado que corporações diversas e plurais são mais lucrativas, inovadoras, tem turnover menor e um clima organizacional mais saudável.
Logicamente, é mais urgente que as empresas revisem também a composição de seus boards. A meu ver, deve-se priorizar profissionais que saibam lidar com a incerteza e a complexidade desse mundo BANI, representem uma gama mais ampla de perspectivas, sejam capazes de questionar os modelos de negócios e as normas de mercado, impulsionando a inovação e as mudanças para ter sustentabilidade e maior capacidade competitiva.
2) Educação em ESG
O ESG é novidade para muita gente, por isso os conselhos devem buscar mais conhecimento sobre o assunto. Uma das formas é incluí-lo na programação dos treinamentos regulares do board. É fundamental também que os conselheiros sejam proativos, buscando por conta própria conteúdo sobre ESG.
3) Modelos de Governança
Os Conselhos devem selecionar um modelo de Governança no qual os controles e as práticas sejam tratados de forma adequada. O modelo pode mudar com o tempo, à medida em que a maturidade da organização em termos de sustentabilidade for evoluindo.
Para concluir, acredito que com essas três medidas o Conselho estará estruturado para nortear o negócio de forma consistente e rápida em ESG e orientar a alta administração a fazer os investimentos certos para isso.
*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares