Por: Priscila Assumpção
“Xi, viu passarinho azul!”, riu a mãe ao ver a filha com o olhar perdido, um leve sorriso nos lábios.
Maria piscou ao ouvir a voz da mãe, e acabou caindo na risada também.
“Ah mãe, é que ele é tão perfeito! Lindo, inteligente, carinhoso. Ai ai.”, suspirou.
“Sei. E quando vão sair de novo?”
“Amanhã. Nossa! Preciso pensar em que roupa vou usar!”, exclamou a moça, agora agitada. Correu para o armário e ficou olhando, sem ver nada que servisse para tão importante ocasião. Voltou a pensar no rapaz. Com o olhar perdido novamente, visualizava outros passeios, uma igreja bem decorada, o príncipe encantado esperando-a ao pé do altar para trocarem juras de amor. Depois viriam casa, filhos, tudo que faz parte de um final feliz.
Vinte e cinco anos depois, Maria cuida do pai idoso, viúvo, e sente saudades dos filhos que estão longe, cada um com sua vida, com exceção do João, portador da Síndrome de Down, que ainda morava com ela. Não imaginava que sua vida ia caminhar para um divórcio e tantas responsabilidades sem ter com quem dividir. Onde estava aquele passarinho azul?
Cansada, foi à cozinha lavar a louça do almoço. Ao olhar para a janela, viu João e seu pai no quintal. Não conseguia ver o que eles estavam olhando, mas riam às gargalhadas. Não tinha como não rir das risadas deles. Seu pai roncava de tanto rir e a risada do João parecia uma metralhadora.
João olhou para a janela da cozinha e viu a mãe rindo enquanto lavava a louça. Correu para dentro de casa e mostrou o que tinha nas mãos. “Olha mãe!”, disse ele, todo alegre.
João abiu as mãos só um pouquinho, o suficiente para não deixar escapar o passarinho azul mais lindo como Maria jamais havia visto.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
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