Por: Priscila Assumpção
“Aquilo que não mencionamos, não gerenciamos.”
Fred Rogers (Mr. Rogers da TV Americana)
Alice engoliu em seco. Não sabia o que fazer ou dizer. Não se sentia nem um pouco preparada para lidar com isso. Enquanto ela ficava calada, o rapaz olhava para ela esperando uma resposta, os olhos cheios de desejo.
– E então? Vamos ou não vamos? – perguntou o rapaz, com a voz mais sedutora que conseguia produzir. O cheiro de álcool no hálito dele fez o estômago de Alice revirar. Ou seriam borboletas no estômago?
A mãe de Alice, Dona Vera, era muito religiosa e não acreditava ser apropriado falar sobre certos assuntos. Principalmente com a filha de 13 anos. Sabia que havia dado uma boa educação para ela, e sua expectativa era que a filha não começaria a namorar até o ensino médio, se tão cedo.
Dona Vera levava Alice à igreja todos os domingos e a encorajava a participar de todos os acampamentos e atividades que ofereciam aos adolescentes. Conhecia os outros pais e professores, e tinha certeza de que estavam reforçando os valores que ela cuidadosamente passava para a filha em casa.
Um dia, Alice timidamente perguntou sobre meninos.
– Mãe, como vou saber se um menino está gostando de mim?
Dona Vera quase cuspiu o café que acabara de colocar na boca e ficou ruborizada.
– Alice, acho que é muito cedo para você se preocupar com isso, minha filha. Na sua idade, eu ainda brincava de bonecas com minhas amigas.
Alice se calou. Apenas aquiesceu com a cabeça e foi para o quarto. Entrando no WhatsApp, aceitou o convite da amiga da escola.
À noite, as duas foram a uma festa na casa de uma colega. Era uma festa de despedida para o irmão mais velho dela que ia para a faculdade em outra cidade. A maioria dos convidados tinham a idade do irmão, e Alice se sentia um pouco deslocada.
– Alice, você está vestida como uma criança. Vem comigo. Vou te emprestar algo para se enturmar melhor aqui. – disse a colega, solícita.
Alice aceitou a gentileza. Quando voltaram para a sala, Alice aparentava ter bem mais do que os 13 anos que completara há meros 2 meses. Algumas cabeças começaram a virar quando ela passava. Alice sentia-se lisonjeada e apavorada ao mesmo tempo.
Quando o rapaz a convidou para saírem dali e irem a algum lugar mais privado, a única referência de resposta que tinha era o que via nas novelas que assistia escondida da mãe. Olhou para a amiga para ver se vinha alguma ajuda da parte dela, mas a amiga só deu uma piscada e continuou a conversar com outro rapaz.
O rapaz era bem bonito. Devia ser de confiança. Alice respirou fundo e respondeu:
– Vamos.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação.
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