Por: Willian Nagib Filho
Três fenômenos se interligam umbilicalmente: (i) a crescente esterilização; (ii) o caos no caixa da Previdência Social e; (iii) o envelhecimento da população, marcado pelo Etarismo (preconceitos contra idosos).
Segundo o Ministério da Saúde, as laqueaduras aumentaram 80% e as vasectomias 40%. Se em 2000 13% dos casais não queriam filhos, agora 20% não querem. Ficou mais fácil, basta ter 21 anos, sem precisar de um ok do companheiro. Aumentando a esterilização, diminui o crescimento populacional.
O Censo 2022 apontou apenas 0,52% de crescimento ao ano no Brasil, a menor taxa oficialmente registrada desde o ano de 1872. No país, em 17 anos a população deixará de crescer. O número de nascimentos em 2000 foi 3,6 milhões, contra 2,6 milhões em 2022, devendo cair mais até 1,5 milhões em 2070. Em 2041, a taxa de fecundidade por mulher será de 1,44, contra 6,28 de 1960.
Sobre o caos na previdência, em 2023 a receita da Seguridade Social pagou apenas 79,3% das despesas da Previdência e assistência. Em 2008 dava e sobrava! Depois de 2013, não mais.
Insustentável o sistema como está. Se não mudarem as regras, em 2040 a idade para aposentar será 72 e, em 2060, 78 anos. Se em 1980 eram 9 trabalhadores para cada 1 aposentado, agora já está em 4,5, daí vai que, projetando-se a linha de quem entra no mercado de trabalho e quem se aposenta, em 2035 teremos mais aposentados do que ativos. A conta não fecha!
Quanto ao envelhecimento da população, em 2050 os idosos já serão 30% da população brasileira, com maior expectativa – e boa qualidade – de vida. Em 2070 o país terá três idosos para cada pessoa com idade até 14 anos, ocasião em que a idade mediana da população passará de 34,8 para 51,2. A participação de pessoas com 60 anos ou mais no total do país passará de 15,6% atuais para 37,8% em 2070, destacando-se que, de 2000 a 2023, o número de idosos mais do que duplicou (a título de comparação, na França o porcentual de idosos levou 150 anos para subir de 10% para 20% da população).
Eis o cenário: contingentes menores de pessoas em idade ativa convencional e potenciais contribuintes de uma previdência quebrada, cujo saldo só piora.
Por outro lado (e aí está o ponto fulcral deste artigo), haverá mais idosos com experiência e boa forma, ávidos por continuar produzindo com dignidade, mesmo quando já aposentados.
Trabalhar até idades mais avançadas tem sido uma perspectiva real, até mesmo porque as idades de aposentadoria aumentaram, acompanhando a expectativa de vida.
Tendo em vista as tendências de fertilidade negativas, as empresas se verão competindo entre si por número menor de jovens e cada vez mais recorrerão a trabalhadores mais velhos, que continuarão contribuindo para os cofres da previdência, mas sem onerá-los, pois já recebem aposentadorias.
Se a ciência das empresas ainda desaprova os idosos, fácil ver que superar o Etarismo – discriminação e preconceito contra pessoas com base na idade – é questão de sobrevivência no mundo corporativo.
Melhor saúde e cognição com os avanços da medicina e qualidade de vida, aliadas à experiência daqueles que representam hoje e futuramente os quadros de maior expectativa etária, levará ao cenário adequado: mais gente produzindo, contribuindo e consumindo.
Não se pode imaginar e admitir um país envelhecido e cheio de preconceito contra os idosos. Ao segmento empresarial é a hora da mudança. Desaprovar os idosos tornou-se um grande tiro no pé!
Colaborador: Dr Willian Nagib Filho (Advogado)