Por: Priscila Assumpção
Na última quinta-feira, como sempre venho fazendo às quintas, fui fazer as compras básicas para repor o que estava acabando em casa. Lista em mãos, parti para minha missão, querendo acabar e sair do supermercado o mais rápido possível. Virei uma caçadora atrás da presa, ao mesmo tempo que fugia do inimigo invisível mortal que está rondando a todos.
A parte que me dá mais preguiça é a de escolher as frutas. Demora para escolher, ver qual está mais bonita, enfiar naquele saquinho rebelde que se recusa a cooperar. Com máscara, ficou ainda mais difícil! Não dá nem para lamber o dedo para conseguir abrir rapidamente a boca do saco. Puxa daqui, cutuca dali e aí se vão uns bons 30 segundos só para abrir o saquinho. Pior quando você vai tentar colocar um cacho de bananas e vaza do outro lado fazendo com que tenha que começar tudo de novo.
Atravessei o corredor a passos largos, no meio de um mar de vultos; estacionei meu carrinho o mais próximo do meu corpo que pude e comecei o processo de escolher um cacho de bananas. Não tinha nem pegado o saquinho quando veio uma mulher e empurrou meu carrinho com força, soltando um grunhido de frustração. Várias emoções passaram por mim naquela fração de segundo: choque, raiva, vontade de atacar. Só que naquele momento caiu minha ficha de que eu não a havia enxergado, assim como não enxergara ninguém por quem eu passara desde que havia entrado no supermercado. Respirei fundo e procurei enxergá-la. Era como olhar no espelho.
Ela não olhou para mim. Parecia ter visão túnel, enxergando apenas os alvos nas prateleiras. Aqueles rostos mascarados eram apenas obstáculos a serem vencidos para sair dali o mais rápido possível e todos estavam sendo extremamente egoístas por atrapalharem.
Eu me senti regredindo para aquela criatura temerosa que morava em cidade grande, sempre correndo, sempre ocupada, andando sem enxergar as pessoas em volta. A maior alegria de vir para o interior foi poder encontrar pessoas conhecidas e queridas em todos os lugares e parar para cumprimentar.
Momento de lucidez: me dei conta de que ainda é isso que está por trás das máscaras.
Colaboração: Priscila Assumpção, Terapeuta, Mediadora, Especialista em Comunicação
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