Animais agitam Sessão da Câmara
Após duas sessões com sabor de água de salsicha – ou seja, absolutamente insossas -, a terceira ordinária do ano da Câmara de Rio Claro rendeu um pouco mais de animação.
O aumento da temperatura ficou por conta do Projeto de Lei 128/2017, do vereador Luciano Bonsucesso (PL), que institui o Código Municipal de Proteção Animal e revoga a Lei 5291, resultado de ampla discussão com a sociedade e em vigor desde junho de 2019.
Único item da Ordem do Dia, a proposta dificilmente seria aprovada em segunda discussão, apesar de ter recebido 14 votos favoráveis quando foi submetida pela primeira vez ao plenário em novembro de 2017. Ocorre que algum tempo depois o então prefeito Juninho (DEM) apresentou o projeto que resultou no atual Código de Defesa e Proteção dos Animais. Na época, a maioria da edilidade combinou que todas as propostas sobre o mesmo tema seriam absorvidas pela do Executivo, mas Luciano manteve a dele em tramitação.
Diante da derrota iminente nesta quarta-feira, já era dado como certo desde o início da sessão que seria apresentado pedido de vista, o que, de fato, se confirmou e foi aprovado por dez votos favoráveis e oito contrários. Essa decisão teve sabor de derrota para a líder do governo, vereadora Carol Gomes (Cidadania), que pretendia manter o projeto na pauta e derrubá-lo de uma vez por todas.
Antes disso, porém, houve um embate acirrado entre Carol e Luciano desde os primeiros minutos da ordinária. Ao ocupar a tribuna, o vereador agradeceu à população por ter sido reeleito e reclamou de ser tratado “com menosprezo” por uma parcela da elite de Rio Claro e dentro do próprio Legislativo. Citou como exemplo a regulamentação do serviço de Uber na cidade, que, segundo ele, abriu mão do protagonismo em favor da própria Carol, e também incluiu a proposta em defesa dos animais na lista de iniciativas das quais foi excluído.
Carol Gomes retrucou Luciano com a ênfase que lhe é peculiar. Além de vincular a redução de votos do representante do PL a um suposto descontentamento dos eleitores porque ele continuaria a cometer os “mesmos erros”, a líder do governo disse que exige respeito e atribuiu a Luciano um comportamento de “menino mimado”. Ela ainda defendeu o Código em vigor, que resultou de sugestões de entidades do porte da OAB e das protetoras de animais – grupo, aliás, que marcou presença na plateia com placas de repúdio ao PL 128/2017.
Até o segundo secretário da Mesa Diretora, Julinho Lopes, entrou no bate-boca para afirmar que Luciano foi “infeliz” ao insistir na proposta apesar de aderir dias atrás ao requerimento que solicitava ao prefeito Gustavo Perissinotto (PSD) regulamentar a Lei 5291/2019. Luciano reagiu e devolveu o termo “infeliz” para Julinho.
Mais tarde, o plenário virou um balaio de gatos, com muitos vereadores de pé, falatório e negociação, o que deixou em plano secundário requerimentos sobre temas até relevantes, como a suspensão da aplicação de vacinas contra o coronavirus – pauta levantada por Serginho Carnevale (DEM).
ervoso, Luciano tentava emplacar o pedido de vista, enquanto Carol insistia na ideia de sepultar de vez o projeto. No final, a duras penas, o vereador conseguiu ganhar tempo, enquanto a líder governista não obteve o apoio de boa parte dos seus liderados.