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Magda e os Gabiru

Por: Antonio Fais

Como sou o quinto de uma família de seis irmãos, sempre pude conviver com pessoas mais velhas e interessantes.

Ofélia era a melhor amiga de minha irmã Magda e, por um bom tempo, namorada de meu irmão mais velho. Muito bonita, para dizer o mínimo (que é apenas o que me é permitido falar para o respeitável público deste não menos respeitável periódico), mas, devido ao nome, tinha fama de burra – injusta, diga-se de passagem. Este fardo a acompanhou na faculdade de medicina! Ganhou ali vários apelidos: QI de samambaia de plástico, ameba mongolóide, para citar alguns. Aprendera a brincar com sua “burrice”, mas no fundo não gostava.

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Era muito bonita mesmo. Não se casou com meu irmão (ainda bem!), mas continuava a frequentar a minha casa (ainda bem!) e, nas horas vagas eu sempre pensava nela (que também é o máximo que posso dizer aqui).

Quando nasceu sua primeira filha, para evitar a sina do nome traumático e em homenagem à minha irmã, chamou-a de Magda, mas, como já deve antecipar o atento leitor, não poderia adivinhar que haveria um programa chamado Sai Debaixo. Para nós, os de casa, ficou Magdinha e apenas Dinha.

Dinha não era só culta e instruída, era realmente muito perspicaz e inteligente, além de muito, mas muito bonita mesmo! Daquelas… Bem… Vamos manter o nível da coluna.

Eu, que já era muito amigo da Ofélia, tornei-me muito mais amigo da Dinha. Era uma delícia – sua companhia, que fique bem claro! – e, como tocava qualquer instrumento (baixo, bateria, teclado, guitarra!), tínhamos até uma banda de fim de semana.

Inteligente, graduou-se em Física e fazia pós em Bioengenharia; bonita, daquela geração de academia, entendia de música e artes, e extremamente bem humorada, a melhor companhia que se pode querer, mas tinha um problema: era muito inteligente. E confidenciava:

– Era melhor ter nascido burra… Ou feia. Beleza e inteligência não combinam – Dizia rindo.

– Assim, nunca vou me casar! Concluía.

Não que não faltassem pretendentes. Sua beleza os atraía, mas a inteligência e o humor… Combinação realmente explosiva!

Conversávamos em um bar, quando um rapaz, bonito, forte, veio à mesa e puxou papo com ela. Acho que se conheciam da academia.

Tentando impressioná-la, escorregava a toda hora, soltando pérolas impressionantes, como “a moçada hoje em dia é oca por dentro”!

Ela, firme, séria, fazia cara de interessada; enquanto nós, apenas esperávamos pelo “acidente”.

A certa altura, o papo caiu em religião e ela perguntou:

– Você se lembra dos 7 pecados capitais?

– Gula…Inveja…Luxuria… – ele tentando lembrar-se de todos.

– E Você comete o pecado da luxuria? – perguntou ela, maldosamente.

– Várias vezes ao dia. – disse, sem saber onde estava se metendo.

(Abro aqui parênteses, pois certo que a maioria dos leitores é ou foi católica, ciente dos pecados capitais para não praticá-los, sabe a que se refere este ignóbil pecado, o que me permite pular a explicação).

O Marco, que tinha acabado de dar um gole no chope, deu um banho em quase todo mundo:

– Cara. Que inveja! Quem me dera…

E, em seguida, explicou a ele o que era luxuria. A conversa continuou e o rapaz, que fazia e acontecia, tentando recuperar os pontos perdidos:

– Eu digo tudo que penso! – categórico.

– Querido… Você diz tudo que lhe vem à cabeça. Você, como diria René Descartes: NÃO EXISTE – finalizou Dinha.

– Obrigado! – disse ele, meio confuso e lisonjeado.

Foi difícil segurar o riso.

Ao deixá-la, no fim da noite, entrei para tomar um último café com Ofélia, que sempre lia até tarde. Contados os fatos, Dinha lamentava-se:

– Cada Gabiru que me aparece.

-Sete pecados capitais?

– Oco por dentro…

– Luxúria…

-Várias vezes ao dia!

– Penso, logo existo…

– Cogito ergo sum.

E, rindo, fomos todos dormir… Sós.

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Antônio Fais

Colaborador

Escritor, Filósofo, Professor, Especialista em Linguagem e Aprendizagem.

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