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Pensar é estar doente dos olhos

No afã de viver, escondemos de nós mesmos a própria vida. Paradoxal essa frase não? Seria paradoxal todas as afirmações que fazemos e que, ainda que se amparem em um raciocínio sólido, aparentemente levam a uma conclusão que parece sem sentido, logicamente inaceitável ou autocontraditória.

A frase que escolhi no início do texto tem esse elemento paradoxal porque, como você pode notar, nela eu afirmo que, ao buscarmos viver, acabamos deixando de viver. A filosofia oriental, de modo geral, tem inúmeros paradoxos como esse e eles tem uma função específica, desconstruir as racionalizações que fazemos sobre nós, os outros e o mundo e nos convida a desenvolver um elemento intuitivo, que nos permita captar cada momento que vivemos, sem julgamentos, em sua singularidade.

Um exemplo que ilustra essa situação pode ser percebida na fábula da centopeia, nela se diz que uma centopeia, muito admirada pela forma graciosa e habilidosa como se movia, foi questionada a respeito de como conseguia essa proeza, como fazia para movimentar com excelência e ritmo todas aquelas dezenas de pernas e, quando ela buscou explicar o que fazia, racionalizando todas as etapas e detalhes do que realizava, até então, de modo automático, não conseguia mais coordenar os movimentos de sua perna e, para surpresa de todos, ela ficou momentaneamente incapacitada de realizar o que fazia com maestria.

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De certo modo, ocorreria a mesma coisa com a nossa vida, isto porque, ao nos dedicarmos a analisar como viver, em seus mínimos detalhes, racionalizando, equacionando, planejando, paramos efetivamente de viver. Sem nos apercebermos, trocamos nossa relação direta com o mundo, pela racionalização do mundo e, infelizmente, o mundo em si mesmo nunca será a abstração que faço dele. Dito de outra maneira, confundimos o mapa pelo terreno, o menu pelo alimento e acabamos por tentar mastigar o menu achando que se trata do alimento, trocamos a vivencia do que o universo nos apresenta ao nosso redor pelas descrições e classificações dos inúmeros mapas que criamos racionalmente a respeito desse mesmo universo.

E o que fazer para evitarmos o equívoco da centopeia? Muitas foram as respostas mas, nesse momento, queria te apresentar a resposta dada por essa mesma filosofia oriental e, especialmente, a filosofia budista, resposta essa que ficou conhecida como Sati e cujo significado poderia ser traduzido como estar presente, termos a consciência do momento, ficarmos atentos ao que acontece agora com nosso corpo, nossas ideias, ao nosso redor no momento presente e que deixemos de lado nossas ideias sobre o passado, muitas vezes lamentando o que ocorreu nele ou nos preocupando com o futuro incerto e os inúmeros planos que temos para ele.

Nessa condição, não realizamos julgamentos sobre o que é o bem ou mal, belo ou feio, certo ou errado, limitamo-nos a captar o que ocorre no momento presente e, através desse exercício, nossa mente ficaria em quietude, aberta à novidade do mundo e de nós mesmos, atenta ao que essa novidade nos apresenta.

De certo modo, essa atitude pode ser muito bem representada por uma poesia produzida por Fernando Pessoa. Ela intitula-se O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele e nela eu gostaria de te convidar a analisar um trecho específico e que é o que se segue: Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele. Porque pensar é não compreender … O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Se o poeta e a filosofia budista tiverem certa razão, que tal iniciarmos esse desafio de abandonarmos a doença dos olhos e abrirmos silenciosamente nossos sentidos para tudo que o universo comunica para nos nesse momento?

Prof. Dr. Edson Renato Nardi
Coordenador – Filosofia Presencial e EAD
Centro Universitário Claretiano
(16) 3660-1777 Ramal 1472
[email protected]

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